Intervenção urgente na vala do Segundo Torrão, em Almada, está na base da ativação de um plano de realojamento de emergência de 43 famílias. À medida que forem saindo, as casas desocupadas serão demolidas.
Pelo menos 43 famílias residentes no bairro do Segundo Torrão, na Trafaria, terão que sair das suas casas até ao final de agosto, naquele que será o primeiro realojamento de grande dimensão de moradores do maior bairro precário do concelho de Almada.
“A vala está entupida e tem fissuras. Tem que ser intervencionada e para isso todas as famílias que moram junto à vala têm que ser realojadas”, disse ao ALMADENSE Paulo Faísca, presidente da Comissão de Moradores do bairro do Segundo Torrão. “A previsão é que haja marés-vivas em Setembro, por isso aqueles moradores têm que sair urgentemente antes que haja uma desgraça”, alertou.
À medida que as famílias forem desocupando as atuais habitações, as casas serão “demolidas gradualmente uma a uma”, de forma a que não voltem a ser ocupadas, apontou Paulo Faísca. Para além das 43 famílias, o espaço físico do projeto Fábrica dos Sonhos, que há cinco anos desenvolve trabalho social junto das crianças do bairro, também terá que ser demolido.
Quanto às famílias afetadas, receberam cartas da Câmara Municipal de Almada com uma convocatória para uma reunião que decorreu esta terça-feira, dia 7 de junho. Participaram na sessão representantes de mais de 30 famílias, onde lhes foi explicado como se irá desenrolar o processo. “Vai ser lançado um plano de realojamento provisório com a duração de três anos”, explica Paulo Faísca, adiantando que os custos serão suportados pelo Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana (IHRU).
Cada família recebeu também uma convocatória para uma reunião particular com representantes da autarquia, onde poderão analisar individualmente a sua situação com os serviços municipais. A localização concreta para onde irá cada família ainda não está definida, sendo que poderá acontecer um pouco por todo o concelho de Almada ou até em concelhos limítrofes. “Esperamos que as autoridades consigam acompanhar as necessidades das pessoas”, manifestou Paulo Faísca, acrescentando que o processo será acompanhado pela Segurança Social, por associações e pela paróquia. De acordo com o responsável, também foi transmitido aos moradores que poderão procurar uma solução habitacional no mercado, cujo custo seria assumido pelo IHRU desde que dentro de alguns requisitos.
Moradores querem conhecer condições
A rapidez com que se está a desenrolar o plano de realojamento está, contudo, a gerar alguma preocupação junto de alguns moradores. Mila Mendes recebeu a convocatória para reunir com a autarquia no próximo dia 14 de junho e mostra-se apreensiva com a urgência do processo. “Somos uma família muito grande. Já nos estamos a mentalizar de que temos que sair, mas queremos conhecer melhor as condições”, diz ao ALMADENSE.
Receia que o mais difícil seja a adaptação às novas casas. Apesar das dificuldades, “aqui as crianças podem brincar na rua, junto ao rio, e têm liberdade. Como é que vai ser quando tivermos que morar separados em apartamentos?”, questiona.
Por sua vez, o presidente da Comissão de Moradores está convencido de que “a maioria dos moradores já tomou consciência de que tem que sair”. Admite, contudo, que algumas situações poderão ser complicadas de gerir. “Por exemplo, neste momento há uma família dividida em três casas. Uma parte da família vai ficar e a outra vai sair”.
Ainda assim, acredita que este primeiro realojamento possa “servir como uma experiência para o posterior realojamento de todo o bairro”. De resto, há muito tempo que se aguarda pela erradicação total daquele que é o maior bairro degradado em Almada. De origem clandestina, começou a ser construído nos anos 70 junto e acolhe atualmente cerca de três mil pessoas, que vivem com escassas condições de habitabilidade.
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