Há um ano que cerca de 300 crianças almoçam por turnos num contentor provisório sem espaço para todas, devido ao encerramento do refeitório por questões de segurança.
É um problema que espera “há anos” por solução. Na Escola Básica n.º 2 da Costa da Caparica, cerca de 300 crianças almoçam num contentor provisório há um ano, enquanto o edifício do refeitório permanece encerrado. Os riscos para a segurança estão sinalizados e já se manifestaram — em novembro último parte da estrutura do teto caiu —, mas a prometida obra de requalificação teima em não sair do papel devido a atrasos contínuos, que exasperam a comunidade escolar.
De acordo com a Associação de Pais do estabelecimento de ensino (também conhecido como Escola Centenária da Costa), o problema é do conhecimento da Câmara Municipal de Almada, que tem reiterado o seu compromisso em resolvê-lo. No entanto, os vários concursos realizados ao longo dos anos não se converteram em ações concretas, alegadamente por falta de interesse nos concursos já lançados. Tudo motivos que preocupam aqueles que temem que esta solução “provisória” se torne permanente.
“A escola tem mais de 80 anos e está carenciada de investimento. Há partes que permanecem inalteradas há 50 anos”, assegura um membro da Associação de Pais ao ALMADENSE. “Embora o refeitório não seja a parte mais antiga, enfrenta dois grandes problemas: o telhado, que ameaçou ruir e, por isso, foi interditado, e a falta de capacidade.”
Estas duas questões foram sinalizadas há mais de cinco anos e, em março de 2024, levaram mesmo à interdição do espaço. Na altura, optou-se por servir os almoços num contentor instalado no recinto escolar. Contudo, a solução nunca satisfez a comunidade e levantou novas questões logísticas num processo já complexo.

“O espaço tem uma capacidade muito reduzida, e o almoço tem de ser servido por turnos”, afirma a mesma fonte. As crianças do pré-escolar começam a comer por volta das 12h. As do 3.º e 4.º ano, muitas vezes, têm de esperar até as 14h. “Algumas crianças, que chegam à escola antes das 8h, já chegaram a sentir-se mal.”
Apesar de interdito por questões de segurança, o edifício do refeitório continua a funcionar, sendo lá que se situa a cozinha onde a comida é confecionada. Uma realidade que só aumenta a frustração dos pais, que afirmam não ver “sentido” no esquema atual. Até porque os riscos para a segurança são bem reais e já se manifestaram: em novembro, parte do teto falso ruiu. “Por sorte, a funcionária não estava presente”, indica a Associação de Pais. Mais recentemente, durante o transporte da comida — que é feito com recurso a um carrinho de cozinha —, parte do piso do logradouro desabou, provocando a queda do carrinho, entornando as sopas e queimando uma funcionária, que precisou de tratamento hospitalar.
Para os pais, a questão é clara. “O que aqui está em causa é a segurança das crianças e dos funcionários. Tememos que possa acontecer algo de grave.”
Autarquia promete obras para o verão
O tema foi inclusive levantado em Assembleia Municipal há algumas semanas. Na ocasião, o vereador José Pedro Ribeiro (PS) assumiu o atraso na execução da obra, apontando as alterações ao projeto original e o chumbo do orçamento municipal para 2025 como algumas das causas. A presidente da Câmara de Almada, Inês de Medeiros (PS), também reforçou a promessa, assegurando que os trabalhos continuam. “Temos enfrentado vários contratempos, reconhecemos o problema, mas não desistimos”, garantiu, acrescentando que tem havido dificuldades em auscultar empreiteiros interessados numa obra que “não é pequena demais para ser fácil nem grande o suficiente para gerar interesse”.
Ao ALMADENSE, a autarquia reiterou que “tem efetuado os esforços necessários” para responder às reivindicações da comunidade escolar, adiantando que o processo se encontra em fase de contratação de serviços de especialidades. O lançamento da obra deverá acontecer no próximo verão, com a “empreitada a decorrer entre agosto de 2025 e maio de 2026”, indica em resposta por escrito. Acrescenta ainda que outras obras na escola estão em diversas fases de execução, “nomeadamente reparação da cobertura e telheiro exterior, instalação de novos pavimentos vinílicos em 3 salas de aulas e intervenções de reabilitação de instalações elétricas no interior e exterior”.
Por enquanto, a situação permanece inalterada. A Associação de Pais diz não pôr em causa “a boa vontade” da estrutura camarária para resolver o problema, mas critica o “silêncio” e a “inação” da autarquia. Garantindo que a situação está identificada desde 2019, recordam que o último concurso foi lançado em 2023 e “de lá para cá nada”. Por isso, a apreensão mantém-se. ”Agora estamos a ouvir que vai ser lançado um novo concurso, vamos ver”. “Sinceramente, já não acreditamos. Passados todos estes anos, quando o problema de fundo não é resolvido, é como aplicar um penso rápido numa ferida aberta. Queremos uma solução, só isso.”
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