Sábado, Outubro 12, 2024
Opinião

“Uma ode a nós, voluntários e ativistas pelo ambiente de Almada (e não só)!”

Diana Tavares, profissional de comunicação e mestre em Comunicação de Ciência                                                                                                                                     

A associação Planet Caretakers recolheu este ano 5,2 toneladas durante a Semana de Limpeza Costeira, uma iniciativa que visa unir as pessoas na recolha do lixo e alertar para o problema do plástico do oceano.

 

De 16 a 24 de setembro, celebrou-se a Semana da Limpeza Costeira, uma iniciativa mundial em que organizações não governamentais (ONGs) e sociedade civil limpam as praias. O objetivo é simples: unir as pessoas na recolha do lixo e alertar para o problema do plástico do oceano. No concelho de Almada, 32 praias foram marcadas para a iniciativa. 

Costa da Caparica, Fonte da Telha, Trafaria, foram os “lugares visitados” por uma comunidade de pessoas bem dispostas, pronta a aprender mais, que queria inspirar os filhos, ou se deixava inspirar por eles. Que quis contribuir por uma única manhã a limpar um pouco. Para que aquele pedaço de lixo não voltasse ao oceano e poluísse mais o nosso planeta ou matasse um animal. 

Quanto a números, a Planet Caretakers, a organização de que faço parte, sozinha recolheu, este ano, 5,2 toneladas. Talvez nunca saberemos os números exatos, porque nem todas as ONGs estavam filiadas com a organização da Fundação Oceano Azul. 

Esta experiência está a acontecer numa altura em que estão reunidas todas as condições para os portugueses perderem a vontade de fazer voluntariado. A crise mundial de habitação, que não deixa adultos nos seus 20s, 30s, 40s viverem as vidas adultas em pleno; o custo de vida a aumentar de tal forma que muitos de nós já tiveram de usar poupanças para pagar as contas do dia-a-dia. 

Em particular, para quem vive nas periferias de Lisboa, como Almada, as constantes avarias, atrasos e má gestão dos transportes públicos que nos deviam levar a casa num intervalo de tempo decente, depois de um cada vez mais difícil dia de trabalho. Um tema sobre o qual já escrevi para esta publicação e infelizmente, continua igual. Quem tem energia para ajudar uma causa, com uma rotina destas?

Os estudos apontam que quando as condições económicas pioram, os cidadãos têm tendência a ter menos tempo e energia para se dedicarem a qualquer espécie de cidadania ativa – seja política, seja comunitária – porque a preocupação passa para, no pouco tempo que têm, para “si e os seus”. Mas semanas como esta, dedicada à temática do lixo marinho, mostram que não somos poucos, nem estamos sós. 

Porque temos de começar a expressá-lo. Ser voluntário de uma causa, ou ativista por uma causa, pode assolar-nos com sentimentos de solidão. Porque parecemos sempre poucos, vemos pessoas constantemente a ignorar os problemas, há sempre falta de tempo e grupos pequenos para estarem presentes em todas as oportunidades. O burnout no voluntariado e no ativismo existe, porque não é algo estimulado pela sociedade portuguesa, e temos de começar a falar uns com os outros sobre isso. 

Apanhar lixo no espaço público pode não parecer grande coisa. Afinal, para quê apanhar o lixo dos outros? Uma pessoa já tem tanto em que pensar… tem de pagar a casa com taxas cada vez mais altas, tem de alimentar os filhos, tem de dormir, tem de tentar o que quer que seja para se sentir melhor com uma vida que só promete ficar pior por causa de como a economia está a desenvolver-se. 

Ao observar estas pessoas a fazerem uma manhã, de um gesto simples, percebi que precisávamos todos coletivamente deste texto. 

Levantemos o copo de vinho, cerveja ou sumo aos que, apesar de todos os problemas do dia-a-dia, sim, apanham o lixo dos outros, pelo planeta! Levantemos o copo a quem dedica, nem que seja uma hora por semana, a tentar fazer alguma coisa para melhorar o mundo à nossa volta! Seja na questão do lixo marinho ou outra, porque infelizmente, o mundo tem tantas causas que podemos escolher, de acordo com o nosso perfil pessoal de gostos, e o voluntariado poderá durar a vida toda! 

Uma ode aos heróis que, ao se agachar no chão para tirar as beatas de cigarro do caminho para o esgoto, leva com olhares de pena de quem passa, porque esses acham uma perda de dignidade, ou pior, algo para os imigrantes e reclusos fazerem. Sem perceberem que aquelas beatas poluem o solo, a água, e os peixes que vão comer no próximo jantar em família depois do dia de praia. 

Uma ode a quem se esforça para deixar o planeta um bocadinho melhor do que como o encontrou! Viva nós, ativistas e voluntários! 

 

Foto: Bruno Marreiros

 

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