Diogo Mira, professor e dirigente concelhio do Bloco de Esquerda em Almada
Ao longo dos últimos sete anos, o Partido Socialista e o Partido Social Democrata entenderam-se em torno de uma agenda que se traduziu no pior que o centrão tem para oferecer: o atraso no desenvolvimento do município.
Existem alianças que não passam de casamentos por conveniência — unidas por interesses momentâneos, não por princípios. Não foram só as temperaturas que diminuíram com a chegada do inverno — a relação entre o Partido Socialista e o Partido Social Democrata em Almada também ficou marcada pelo arrefecimento. Se, no início, a parceria entre estes dois partidos foi marcada por um clima de entusiasmo e promessas de estabilidade e desenvolvimento para Almada, agora o termómetro político indica temperaturas em queda. O arrefecimento desta relação não é uma surpresa para quem acompanha a política local almadense: as alianças de governo construídas por conveniência tendem a derreter quando não são fundamentadas numa visão estratégica de desenvolvimento para o concelho.
Em dezembro de 2024, a Assembleia Municipal de Almada chumbou o orçamento municipal para 2025 apresentado pelo executivo camarário. Ao longo dos últimos sete anos, o Partido Socialista e o Partido Social Democrata entenderam-se em torno de uma agenda que se traduziu no pior que o centrão tem para oferecer: o atraso no desenvolvimento do município. A viragem do PSD contra o seu parceiro de longa data foi uma tentativa de se demarcar de um executivo de insucessos. A tentativa do PSD de se afastar da governação às vésperas de um novo ciclo político é uma jogada tática previsível, mas que não apaga a sua responsabilidade nos orçamentos aprovados nos últimos anos. Durante dois mandatos, o PSD participou ativamente nas decisões que agora tenta negar, demonstrando falta de coerência e de compromisso com os almadenses.
Com o objetivo de apresentar um novo orçamento municipal, Inês de Medeiros convocou as forças políticas da oposição para uma nova ronda de negociações. O Bloco de Esquerda, ciente e comprometido na defesa dos interesses dos almadenses, reuniu-se com o Partido Socialista e apresentou um conjunto de medidas para o desenvolvimento do município. Contudo, o Partido Socialista mantém aquilo que tem sido a sua prática ao longo dos últimos dois mandatos: insiste num modelo de governação que ignora as propostas vindas da esquerda.
O Bloco de Esquerda apresentou doze medidas que abrangem as questões estruturantes para o nosso concelho, desde a habitação, a mobilidade, a fiscalidade e serviços municipais. Entre elas destacam-se o reforço da habitação a custos controlados, a redução do IMI e da fatura da água, a valorização dos trabalhadores da autarquia e um maior investimento nos transportes públicos. No entanto, a presidente Inês de Medeiros continua a condenar Almada ao atraso, rejeitando todas as propostas do Bloco nestas matérias, sinalizando que o Partido Socialista continua fechado na sua própria agenda e recusa dialogar com a esquerda sobre o futuro do município. Dizer que a reprovação do orçamento ameaça a execução dos projetos do PRR é um argumento tão gasto quanto vazio. A Câmara continuará a governar com o orçamento de 2024, maior do que o inicialmente proposto para 2025. A verdade é cristalina: se os compromissos não forem cumpridos, será pela inação do PS e não pela coerência da oposição.
Sete anos de oportunidades desperdiçadas. Sete anos de uma Almada que poderia ter sido e não foi. O legado do PS e do PSD é um mosaico de promessas não cumpridas, de desafios ignorados, de uma cidade que espera por soluções e vê apenas discursos sem substância. A habitação continua a ser um luxo inalcançável, os transportes um labirinto sem saída, os serviços públicos uma promessa adiada.
O tempo da inação tem de chegar ao fim. Almada clama por um novo rumo, por mãos que moldem um futuro mais justo e digno. É tempo de uma política que não tema o progresso e que se atreva a sonhar por uma Almada para todos. Uma política de rostos comprometidos, de palavras que se transformam em ação, de coragem para romper com os erros dos executivos anteriores.
O concelho de Almada não pode ser refém de alianças opacas e de jogos de poder do bloco central. O futuro de Almada merece mais do que estratégias de curto prazo e os eleitores têm nas suas mãos o poder de exigir essa mudança, de reivindicar uma política que se construa sobre a verdade e sobre a vontade genuína de fazer diferente e melhor. Porque Almada não precisa de mais discursos vazios — precisa de visão, de ousadia e de um compromisso autêntico com o bem comum e esse é o projeto do Bloco de Esquerda em Almada.
PSD chumba orçamento de Almada para 2025 em Assembleia Municipal