Depois de uma edição atípica, a Quinzena de Dança está de regresso a Almada e à sua vocação de divulgação de criadores nacionais e internacionais na área da dança contemporânea. Em entrevista ao ALMADENSE, Ana Macara, diretora artística, e Carlota Machado, diretora de produção, falam sobre a edição deste ano do festival que arranca hoje, 23 de setembro, e se prolonga até 17 de outubro. Abraçam o desafio de organizar um festival internacional com poucos recursos financeiros, convictas de que o evento irá “voltar a encher os teatros”.
Como descreve a sua experiência, de 29 anos, a dirigir a programação de um festival internacional de dança contemporânea na cidade de Almada?
Ana Macara (AM): Tem sido uma experiência sempre muito desafiante. É um festival com um orçamento muito reduzido, mas sempre procurámos fazer o máximo possível com aquilo que temos. Temos a sorte de ter uma diretora geral com uma capacidade de trabalho espantosa, a Maria Franco, que permite que alguns sonhos se transformem em realidade. Temos feito coisas que não pareciam possíveis com os meios que tínhamos, mas temos conseguido através de parcerias, colaborações e contactos que temos desenvolvido com companhias internacionais. Tem sido enriquecedor pois trazemos espetáculos e pessoas com quem podemos falar e trocar experiências. Percebemos que há muitas maneiras de encarar a dança contemporânea e que todas são possíveis Nem sempre há só um caminho, e a Quinzena procura testar esses vários caminhos, e isso tem sido muito interessante ao longo dos anos.
Nesta 29ª edição, a Quinzena de Dança de Almada decidiu realizar uma Convocatória Nacional com o intuito de dar um especial destaque aos artistas portugueses na programação. A que se deveu esta decisão?
AM: Na realidade teve que ver com todos os contratempos desta pandemia. Todos os anos fazemos uma convocatória internacional, na qual temos entre 400 a 500 respostas de companhias internacionais interessadas em participar na Quinzena de Dança de Almada. No ano passado, quase metade das companhias selecionadas não puderam vir devido às dificuldades em viagens e devido às restrições pandémicas. Neste sentido, este ano, quisemos apresentar todas as que não puderem vir o ano passado, completamos com companhias que achamos interessante adicionar e, sobretudo, destacar as companhias nacionais. Vamos ter uma sessão dedicada só a compositores que estão em Portugal, embora nem todos são portugueses. Isso é muito interessante, temos vários estrangeiros que estão radicados em Portugal e estão a fazer dança portuguesa, que no fim representa Portugal.
A Quinzena abre a sua programação com uma performance RGB, pela Companhia de Dança de Almada, resultado de uma residência artística com os Led Silhouette, em parceria com a Mostra de Espanha. Toda a programação é também caracterizada por uma forte presença espanhola. O que trazem artistas de Barcelona, da Galiza, e outras localidades espanholas ao panorama da dança contemporânea em Portugal?
AM: Na realidade, a dança contemporânea começou a desenvolver-se mais cedo em Portugal do que em Espanha. Espanha tem uma tradição muito grande de dança espanhola. Mas é um país muito grande e tem-se desenvolvido muito em dança. Há muitos criadores a fazerem trabalhos interessantes, há novas visões que nos parecem muito enriquecedoras trazer para cá. Para nós, é importante ir buscar essas visões e fomentar o intercâmbio.
Há uma linha que caracteriza a dança contemporânea em Portugal?
AM: Acho que há mais do que uma linha. Houve uma época em que talvez houvesse uma linha. Neste momento há várias. Há coreógrafos que se dedicam a uma dança mais conceptual, outros a uma dança mais formal. Há, de facto, muitas possibilidades às quais estamos abertos. Consideramos que é muito importante uma dança que procura explorar todo o património técnico, em que o corpo é de facto um instrumento de comunicação muito importante.
A Quinzena espelha esse conceito multidisciplinar na dança?
AM: Sim, mas tudo o que apresentamos está mais focado na fisicalidade e menos na conceptualidade.
Quais são as expectativas para esta edição?
AM: Conseguir voltar a encher os teatros. O ano passado tivemos um terço da lotação, este ano esperamos que o público volte. Sabemos que é desafiante porque neste momento existe muita oferta cultural. Mas apostamos que o público volte à dança contemporânea.
Como diretora de produção, que singularidades destaca na Quinzena da Dança de Almada?
Carlota Machado (CM): A Quinzena de Dança de Almada é o único festival com este formato no país. Para bailarinos, permite ser uma plataforma para artistas emergentes. Curiosamente, é um festival com grande notoriedade fora de Portugal. É um festival que funciona com Open Call, selecção, e oferece as todas as condições para novos artistas apresentarem as suas peças.
A Quinzena de Dança de Almada é um festival financiado pela Câmara Municipal de Almada, Direção-Geral das Artes e a República Portuguesa. A programação está disponível no site oficial do festival.
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