Quando não são os carros mal estacionados, são os buracos nos passeios e as pedras da calçada levantadas — ótimas, para aquele tropeçar matinal…
Sofia Macedo, residente na Cova da Piedade
Vivo, diz-me o Google Maps, a oito minutos a pé da creche dos meus filhos — digo-vos eu que tenho dois. Todos os dias de manhã, saímos de casa, frescos e fofos, preparados para superar a gincana que nos espera.
Afinal, oito minutos em pernas de crianças equivalem a muitos minutos mais, muitos mais! E — para quê facilitar?! — há ainda que considerar todos os extras e obstáculos que a vida, e a vizinhança e os que passam!, nos vão colocando pelo caminho, tornando, assim, cada dia único e cada momento na Cova da Piedade inesquecível!
Falamos, por exemplo, daquele carro maroto estacionado no passeio. Aliás, daqueles carros marotos! Porque nunca é um, nem são dois ou 12! Agora, os dois já vão a pé, mas conseguem imaginar a diversão que era quando tinha de fazer estes oito minutos a empurrar um carrinho de bebé? Até porque quando não são os carros mal estacionados, são os buracos nos passeios e as pedras da calçada levantadas — ótimas, para aquele tropeçar matinal!
Melhor ainda é quando a mais velha resolve ir de bicicleta e, em vez de aproveitar, de forma segura, os passeios que existem até à creche, tem de ir pela estrada.
“Mas se tens estrada, por que te queixas?”
Ora excelente pergunta! Afinal, se os meninos podem ir pela estrada, tal como os carros e as motos, onde é que está o problema?

Vivendo em Almada, tenho ainda a sorte e o luxo de viver numa localidade onde os pais são ultra preocupados com as suas criancinhas. São tão preocupados, mas tão preocupados que quando os levam à escola de carro, asseguram-se de os deixar mesmo à porta, nem que para isso tenham que estacionar em 2º e 3º fila! De outra forma, como poderiam confirmar que os meninos entram, efetivamente, na escola? E, acreditem em mim, em oito minutos de caminho, assisto a várias provas de amor paternal. Ou não passasse eu por uma escola secundária e por uma primária até chegar, por fim, à creche. Mandasse eu no mundo e os carros entravam na escola #GentleParenting.
À parte disto, há ainda outros maravilhosos presentes que vou encontrando pelo caminho. Falo, por exemplo, daquele lixo acumulado – neste segmento, o meu favorito é o lixo voador, que se espalha pelas ruas e parques – daquelas garrafas partidas ou daquele cocó de cão que algum vizinho por lapso e inocência deixou pelo caminho – “Quem nunca?”, deve pensar esse vizinho considerado e cívico, repetindo a façanha dia após dia!
A verdade é que se todos déssemos mais passos (mesmo que pequeninos) para tornar os percursos e caminhos em Almada mais seguros e civilizados, não só para as crianças, mas também a pensar nos carrinhos de bebé, cadeiras de rodas e idosos, todos sairemos a ganhar. Quem sabe – e esta é só uma ideia maluca! – talvez um dia também os nossos filhos possam fazer esse mesmo caminho sem obstáculos e gincanas forçadas, desfrutando do que realmente importa: a alegria de mais um dia que começa.
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