Moradores do bairro de Almada mostraram alívio, mas continuam apreensivos em relação ao futuro, reiterando não ter alternativa habitacional.
O Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana (IHRU) decidiu não avançar com a demolição do bairro informal de Penajóia, no Pragal, enquanto não forem garantidas soluções para o bairro, onde residem atualmente mais de 400 pessoas em habitações autoconstruídas.
“Não serão realizadas desocupações de edificações sem que sejam previamente providenciadas alternativas habitacionais adequadas aos respetivos agregados familiares, em conformidade com a legislação aplicável, nomeadamente a Lei de Bases da Habitação”, informou o Instituto, proprietário dos terrenos, numa resposta por escrito enviada ao ALMADENSE.
Depois de ter afixado no bairro um edital estabelecento o prazo desta quarta-feira, dia 10 de julho, para a remoção das construções, o IHRU recuou entretanto na decisão de avançar já com as demolições.
No bairro, os moradores mostraram algum alívio com o esclarecimento feito pelo Instituto, mas mantêm a precupação e lamentam a falta de informação sobre o destino do bairro, que cresceu de forma acentuada nos últimos dois anos. Na quarta-feira, “ninguém foi trabalhar com o receio do que podia acontecer”, conta Elisângela, residente em Penajóia, ao ALMADENSE. A apreensão continua presente: “ainda não sabemos o que vai acontecer nos próximos dias”, refere.

Maria de Fátima, outra moradora, corroborou que muitos vizinhos evitaram ir trabalhar na quarta-feira devido ao receio de que as demolições tivessem início. Empregada doméstica, conta que os elevados custos da habitação a levaram a instalar-se em Penajóia com os dois filhos. “É impossível arrendar: pedem 500 euros só por um quarto”, descreve. “Não sobra nada para comer nem para pagar as contas”, lamenta a cabo-verdiana.
Para conseguir pagar a construção da casa em Penajóia teve que contrair uma dívida, mesmo consciente que o terreno não lhe pertencia. “Eu e outras pessoas investimos o pouco dinheiro que temos aqui porque não queríamos ir viver na rua. Queremos viver com alguma dignidade”, conta. Contudo, “se demolirem a minha casa, vou ter que continuar a pagar a dívida”, refere.
Quanto ao IHRU, indica que está “a elaborar um diagnóstico social individual das necessidades de cada agregado familiar e a promover a articulação com diversas entidades responsáveis nesta área para encontrar soluções habitacionais para as famílias, estando já em contacto direto com estas”. No entanto, os moradores ouvidos pelo ALMADENSE afirmam não ter recebido qualquer contacto da parte do proprietário do terreno. “Precisávamos de ter uma reunião com o IHRU para que nos explicassem o que vai acontecer, mas até agora nada”, afirma Elisângela.
De momento, o IHRU afirma que vai avançar apenas com “trabalhos de limpeza limitados à área envolvente, focando-se na desmatação de terrenos e na demolição de obras iniciadas e não concluídas e que atualmente não têm qualquer ocupação”. Questionado pelo ALMADENSE sobre quando irão iniciar os trabalhos, o Instituto não especificou uma data.
Os habitantes do bairro têm recebido apoio de associações e coletivos que lutam pela habitação digna que, esta segunda-feira, dia 9 de julho, se juntaram aos moradores para pedir uma solução habitacional para os moradores de Penajóia. Agrupadas na plataforma Casa Para Viver, as associações defendem que a luta dos moradores é importante para que seja encontrada uma solução justa. Na mesma ocasião, foi feito o anúncio de uma manifestação pelo direito à habitação para o próximo dia 28 de setembro.
Preços das casas em Almada ultrapassam os 2500 euros por metro quadrado
Muito informativo