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Almada vai aquecer. Estamos prontos?

Diana Tavares, jornalista e mestre em Comunicação de Ciência                                                                                                                                     

Com o aumento do nível do mar, precisamos de garantias de que o paredão, ou o aumento do paredão, é suficiente. Se não for, os habitantes da Costa da Caparica merecem saber, em tempo útil, que adaptações vão precisar de fazer para se adaptarem.

 

Almada tem rio, arribas, uma cidade com um quadro urbano vasto, praias, matas e oceano, num Portugal cada vez mais conhecido como parte de uma Península Ibérica que sofre com as ondas de calor e secas. Se não cumprirmos por inteiro as recomendações científicas para 2030 e 2050, este cenário só irá piorar.

Algo que é cada vez mais aparente, quando pedimos para a transição energética ser mais gradual ou quando não largamos o carro. As cidades são centrais para as pessoas se sentirem protegidas para a mudança que aí vem. Por isso, convém analisar alguns elementos em cima da mesa para a nossa cidade: 

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Almada faz parte dos 18 municípios que vão receber um conjunto de 120 milhões de euros por parte do Instrumento Territorial Integrado, com projetos para reabilitação do espaço público, mobilidade sustentável e adaptação. O plano, quando anunciado à comunicação social, pretendia acelerar a descarbonização e a preparação para a vulnerabilidade climática, reduzir o insucesso escolar e promover a inclusão social. 

40 milhões vão para o turismo sustentável e segurança das zonas urbanas, 36 milhões para a mobilidade e 14 milhões para prevenção de riscos. Anunciam também, em percentagens, 19% na requalificação, 16,2% na mobilidade sustentável, 15,6% na adaptação climática, 12,5% na educação, 11,5% na natureza e património, 10% na justiça social. 

Além de Almada estar incluída neste fundo, existem projetos de novos pólos universitários, de inovação tecnológica e um novo passeio ribeirinho na margem sul do Tejo. 

Em abril, foi aprovada a criação de um regulamento municipal de Gestão de Arvoredo em Meio Urbano, como medida mitigadora das ondas de calor e outras consequências. No mesmo plano, foi aprovado o uso dos mercados municipais para a sustentabilidade e economia circular, para depois ter captação de novos negócios e por aí, emprego. 

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Também neste ano, começaram as plantações e ensinamentos sobre micro-florestas. No campo da transição energética, houve apresentações para ensinar sobre as chamadas cooperativas de energia, cuja informação online a câmara também disponibiliza. Aprovaram-se princípios para a Carta da Costa da Caparica para a ação climática local. 

Como almadense, sinto-me aliviada por, ao menos, a cidade ter um plano climático municipal para 2030. Há cidades nos países mais economicamente desenvolvidos do mundo que não têm essa sorte. Mas estou confiante de que estamos preparados? Não. 

Os 120 milhões de euros para a Área Metropolitana de Lisboa não é dinheiro que Almada terá para si. Vai partilhá-lo com Lisboa, com a Moita, com Sesimbra, Setúbal, etc. e o dinheiro parece pouco para ser dividido em tantas categorias, como os próprios representantes apontaram no anúncio do financiamento. Especialmente se quiserem juntar questões de educação entre o clima e a reabilitação urbana. 

Na questão do arvoredo e dos mercados municipais, pelo menos, fico contente por ver isso, experienciar com os meus próprios olhos algumas destas ideias a tomar forma, de uma maneira que os munícipes conseguem ver. É um bom começo. Ao mesmo tempo, a implementação das micro-florestas e das comunidades de energia tem pelo menos as bases para começar a espalhar-se, pelo que tenho visto. 

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Os elefantes na sala

Mas há três elefantes na sala quando falamos de adaptação a alterações climáticas. Há pouca informação acerca de como o arvoredo no próprio espaço urbano da cidade é suficiente, por causa do calor em locais como Cacilhas e na avenida São João Baptista, e se a informação existe, é difícil de encontrar para o cidadão comum. 

O segundo elefante é a crise de sedimentos na Costa da Caparica. Com o aumento do nível do mar, precisamos de garantias de que o paredão, ou o aumento do paredão, é suficiente. Se não for, os habitantes da Costa da Caparica merecem saber, em tempo útil, que adaptações vão precisar de fazer para se adaptarem. 

Por fim, o terceiro elefante da sala é como é que Almada espera adaptar-se se não resolver os problemas que sente pelo que acontece em Lisboa. Falo maioritariamente dos transportes, que continuam a incentivar o uso do carro pelos almadenses para a outra margem, como o mercado da habitação. 

Sem boas políticas de habitação, que respondem bem a perguntas sociais e ambientais (evitemos colocar estes dois em conflito), a luta climática não se resolve. E o mercado da habitação, seja ele de arrendamento ou de compra, está a ser neste momento uma crise mundial, não se vai resolver de forma isolada por cada Câmara Municipal a não ser que a política nacional o permita. Os municípios devem ter poder para aplicar políticas de habitação e considerar a questão climática por cada prédio novo que seja construído, arrendado ou posto à venda. 

 

“Precisamos de falar sobre beatas”

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