Novas embarcações só poderão começar a operar após a conclusão do concurso público para a construção dos postos de carregamento, que acaba de ser lançado pela terceira vez. “Corremos o risco de os barcos chegarem, mas não haver forma de os carregar”, alerta a União dos Sindicatos de Setúbal.
A renovação da frota da Transtejo continua sem uma data concreta para entrar em funcionamento, depois da empresa pública ter lançado pela terceira vez o concurso público para a construção e fornecimento das estações de carregamento dos dez navios elétricos que encomendou.
“O concurso lançado em maio foi extinto por exclusão das propostas apresentadas e, no dia 10 de agosto, foi lançado novo concurso, não sendo ainda possível antever a data de conclusão efetiva deste processo”, indicou fonte da empresa pública, numa resposta por escrito enviada ao ALMADENSE.
Na primeira tentativa, lançada em Setembro do ano passado, a Transtejo tencionava pagar 8,6 milhões de euros pelas estações de carregamento. Na segunda, ocorrida em maio deste ano, a operadora subiu o valor para os 16 milhões de euros, que se manteve no terceiro concurso.
Quando questionada sobre quando se prevê que a nova frota esteja em funcionamento, a Transtejo não adiantou qualquer data, informando apenas que “a entrada ao serviço dos novos navios elétricos ocorrerá após a sua chegada e a formação das respetivas tripulações”.
Quanto às baterias de energia, “serão fornecidas em paralelo à entrega dos navios”, adiantou a empresa que assegura o transporte fluvial no Tejo, recordando que as estação de carregamento “vão ser instaladas nos terminais fluviais do Seixal, Cais do Sodré, Cacilhas e Montijo”.
“Corremos o risco de os barcos chegarem, mas não haver forma de os carregar”, alerta Luís Leitão, coordenador da União dos Sindicatos de Setúbal/CGTP-IN, em declarações ao ALMADENSE. “Não foi acautelado o carregamento. Corre-se o risco de ter os barcos só para ver”, aponta o dirigente sindical.
Por sua vez, também a chegada das novas embarcações, que já esteve prevista para o final de 2020, tem sido adiada. Comprados aos Astilleros Gondán por 52,4 milhões de euros no ano passado, os navios deveriam começar a ser entregues em abril de 2022. Entretanto, a previsão de chegada dos quatro primeiros navios da nova frota elétrica foi alterada, encontrando-se agora “prevista para o período entre dezembro de 2022 e junho de 2023”, indicou a operadora ao ALMADENSE.
Barcos “encostados” e falta de manutenção
Enquanto não chegam as novas embarcações, acumulam-se as dificuldades de operação da Transtejo com a frota atual, muito envelhecida. Nas últimas semanas, foram numerosas as falhas no transporte fluvial no Tejo, tanto motivadas por greves dos trabalhadores, como por avarias nos navios.
“Os barcos estão constantemente a dar problemas. Há uma falta de manutenção preventiva”, afirma Luís Leitão, para quem a “manutenção dos barcos deveria ser programada com antecedência”.
A situação mais grave ocorreu na ligação entre a Trafaria, Porto Brandão (em Almada) e Belém (em Lisboa), que foi totalmente suprimida durante sete dias: entre o passado dia 27 de julho e 2 de agosto. Ao ALMADENSE, a Transtejo justificou a suspensão do serviço com uma “avaria técnica inesperada do navio ferry que opera nesta ligação. Ultrapassada a questão técnica, a ligação fluvial foi retomada no dia 2 de agosto, encontrando-se restabelecido o serviço regular de transporte de passageiros e de veículos nesta ligação”.
Neste momento a operar apenas com um navio (o ferry Almadense), a travessia entre a Trafaria e Lisboa enfrenta constrangimentos recorrentes. “Quando o navio Almadense tem problemas não há alternativa”, lamenta o representante da união sindical, recordando que o ferry Lisbonense, adquirido em 2011 para fazer a mesma ligação, se encontra há anos “encostado”, devido a um “problema de fabrico”. No entanto, “se fosse feita a manutenção preventiva, o navio poderia estar a funcionar”, acredita o responsável, para quem a situação é “difícil de compreender”.
Por sua vez, também em Cacilhas “há neste momento embarcações encostadas”, aponta Luís Leitão. O responsável recorda que no passado quando o ferry da Trafaria avariava se colocava “pelo menos um cacilheiro na Trafaria”, para assegurar o transporte de passageiros, algo que neste momento não é possível devido à falta de navios operacionais.
“Não há embarcações nem marinheiros”, constanta o responsável sindical, para quem a Transtejo acumula “anos e anos de má gestão da causa pública”. O dirigente entende ainda que a situação “tem responsáveis”, apontando o dedo “à administração da Transtejo”, mas também “ao Governo, nomeadamente ao Ministério do Ambiente”.
Lamentando que não se esteja a privilegiar o transporte público, Luís Leitão mostra-se ainda “preocupado com o início do ano letivo”, em setembro próximo. “Corremos o risco de que aconteça algo semelhante ao que ocorreu em 2015, com uma ruptura do serviço”, concluiu.
https://almadense.sapo.pt/mobilidade/suspensao-da-ligacao-fluvial-deixa-moradores-da-trafaria-e-porto-brandao-confinados/