Um grupo de munícipes teme que a intervenção prevista para o eixo central de Almada represente um aumento do tráfego automóvel, tendo lançado uma petição que pede a abertura de um “processo de discussão pública” sobre o projeto.
O projeto de requalificação da via principal da cidade, anunciado pela Câmara Municipal de Almada, está a gerar preocupação junto de um grupo de munícipes, que pede a abertura de uma discussão pública sobre as mudanças urbanísticas previstas. Em causa está uma empreitada que, tal como o vereador responsável pelo pelouro da mobilidade, Miguel Salvado, avançou em entrevista ao ALMADENSE, prevê a reabertura ao trânsito de duas rotundas, o aumento das vias de circulação rodoviária e a diminuição do tamanho dos passeios.
Alterações que, no entender dos moradores, “privilegiam o acesso automóvel ao centro da cidade em deterimento acesso pedonal e ciclável”, e que levaram à criação de uma petição que pede a “suspensão da proposta de requalificação do Eixo Central da cidade de Almada” e o início de “um processo de esclarecimento e discussão pública”, que soma já perto de 400 subscritores.
“Defendemos o envolvimento dos residentes no processo de decisão”, explica ao ALMADENSE Filipa Vasconcelos, residente em Cacilhas e uma das impulsionadoras da petição. “O projeto vai mexer com a vida da população que ali reside e não foi discutido com os moradores”, aponta, lamentando que a proposta “não demonstre uma preocupação com a mobilidade ambientalmente sustentável”.
“Um projeto desta envergadura deveria necessariamente ser alvo de discussão pública”, assinala, por sua vez, Carlos Guedes, deputado independente na Assembleia Municipal de Almada. Para o responsável, também subscritor da petição, a intervenção “não parece promover a descarbonização e vai em sentido contrário em relação ao que está a ser feito em Lisboa e outras cidades da Europa”, argumenta, em declarações ao ALMADENSE. Neste momento “há mais dúvidas do que certezas sobre os planos do Executivo municipal para o eixo central da cidade”, afirma, sublinhando que o principal objetivo é “conhecer o projeto”.
Virar (de novo) a cidade do avesso
O eixo central de Almada reabriu ao trânsito em 2012, altura em que as avenidas D. Nuno Álvares Pereira e D. Afonso Henriques passaram a “zona mista”, depois de terem funcionado como zona pedonal desde 2008 (ano em que também entrou em funcionamento o metro de superfície). Uma alteração ainda recente, que leva Filipa Vasconcelos a defender que “não se pode virar a cidade do avesso de dez em dez anos”. Por isso, duvida que a intervenção prevista seja uma prioridade, tendo em conta, nomeadamente, a “necessidade de requalificação de outras zonas da cidade” e de “criação de uma verdadeira rede ciclável” no concelho.
Quando estamos a cerca de seis meses das eleições autárquicas, “o que deveria acontecer seria que os partidos colocassem nos seus programas que ideia têm para a cidade”, para que as pessoas “possam escolher”, argumenta, por sua vez, Carlos Guedes. Neste momento, o que vemos no concelho de Almada são “várias obras no terreno sem uma ideia estrutural subjacente”, defende. “As pessoas precisam de conhecer os planos para se poderem pronunciar”, adianta.
Questionada pelo ALMADENSE sobre a possibilidade de suspensão e discussão pública sobre o projeto, fonte da Câmara Municipal de Almada adiantou que “a primeira fase desta obra já se encontra em fase de lançamento de concurso, após aprovação em reunião de câmara”. Ainda assim, a mesma fonte adiantou haver “espaço para melhorias à proposta apresentada, desde que em concordância com o protocolo aprovado com o MTS e o IMT”.
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