DIA INTERNACIONAL DA MULHER
Tal como no resto do país, também em Almada o género feminino tem escassa visibilidade no espaço público. Importa “encontrarmos estratégias para alterar ou corrigir a situação no futuro”, acredita Florbela Barão da Silva, coautora do livro “Mulheres de Almada”.
Dos 46 anos de poder local democrático em Almada, 31 foram feitos com lideranças femininas. Foi em 1987 que o concelho entregou pela primeira vez o poder a uma mulher: Maria Emília de Sousa (CDU), que permaneceu na liderança da autarquia durante 26 anos. Mais tarde, em 2017, Almada voltava a eleger uma líder feminina, desta vez a socialista Inês de Medeiros, responsável pela primeira alternância partidária no concelho.
No entanto, apesar da governança local se ter feito maioritariamente no feminino, a visibilidade das mulheres no concelho ainda não se estendeu à representatividade no espaço público. Passeando em Almada, é fácil perceber que quem dá nome às ruas, às praças e até aos equipamentos públicos são, na sua grande maioria, homens. De acordo com um levantamento feito pelo jornal ALMADENSE, menos de 15% das ruas do concelho com nomes próprios têm nome de mulher. Uma disparidade que se aproxima do que acontece a nível nacional. Em termos de arte pública, para além do “Monumento à Mulher”, na Sobreda, também escasseiam os exemplos dedicados a mulheres.
“É a velha problemática da invisibilidade histórica da mulher. São sobretudo figuras públicas e históricas que dão nomes às ruas. E a história tem sido escrita sobretudo por homens sobre homens”, assinala Florbela Barão da Silva, em declarações ao ALMADENSE.
Foi essa uma das razões que a levou, juntamente com M. Margarida Pereira-Müller e a ilustradora Isa Silva a lançar o livro “Mulheres de Almada”, com o qual pretenderam homenagear mulheres com ligação ao concelho, tanto públicas como anónimas.
Para a autora, o tema da representatividade das mulheres no espaço público é pertinente, pelo que importa debater o assunto, de forma a “encontrarmos estratégias para alterar ou corrigir no futuro”, sublinha. Como munícipe, acredita que é preciso “discutir qual o critério mais importante: se são nomes, acontecimentos, nomes de cidades ou países, referências a monumentos ou a conceitos como o de Liberdade”. Avança com uma sugestão: “Quem sabe criar um colégio municipal de eleitores ou mesmo concursos criativos nas escolas. Individualmente, há munícipes amigos de Almada que vão sugerindo ao edil nomes que consideram válidos para serem homenageados”.
No livro “Mulheres de Almada” incluíram biografias de mulheres que deram nomes a ruas do concelho, tais como Adelaide Coutinho, Emília Pomar, Maria Beatriz Ferreira Pito Basto Mexia ou Maria da Encarnação Jorge. “São sobretudo escritoras, professoras, mas também mulheres com Medalha de Ouro e Prata, de Mérito Cultural e da Cidade”, sublinha Florbela Barão da Silva, dando como exemplos Maria Rosa Colaço, Rosa Alface, Maria Soares da Rocha Gomes, Margarida Montenegro ou Maria Emília de Sousa.
“O nosso livro começa com uma citação que, na pesquisa ao Arquivo Histórico Municipal, me despertou a atenção: “Almada…, uma cidade que afinal se descobre como uma cidade com Nomes de Mulher” do catálogo da exposição da Câmara Municipal de Almada, coordenado por Ana Isabel Ribeiro (2001). “Gosto de pensar que Almada tem nome de mulher e um tom de voz feminino”, remata a autora.
Estes e outros assuntos estarão em destaque na conversa em torno do livro “Mulheres de Almada”, que terá lugar no próximo dia 12 de março, na livraria Bertrand, no centro de Almada, pelas 17h. O encontro vai contar com a presença das autoras, Florbela Barão da Silva e M. Margarida Pereira-Muller, e da ilustradora, Isa Silva.
https://almadense.sapo.pt/cultura/novo-livro-da-protagonismo-as-mulheres-de-almada/