Iniciativa “Uber Commute” decorre durante o mês de junho e oferece descontos nas deslocações até às estações de comboio e barco a sul do Tejo. No entanto, o projeto pode provocar um aumento dos congestionamentos, acusa Carris Metropolitana.
A partir desta segunda-feira, dia 2 de junho, e até ao final do mês, a Uber, conhecida plataforma de transporte individual, vai ter em vigor o projeto-piloto “Uber Commute”, que aplica descontos nas viagens até às estações de barco e comboio e que pretende posicionar a empresa como complemento ao transporte público. A estreia da iniciativa acontece na Margem Sul do Tejo, nomeadamente nos concelhos de Almada, Seixal, Barreiro, Montijo, Moita, Palmela e Setúbal.
O projeto surge num contexto de crescente pressão sobre a rede de transportes públicos da Margem Sul, em particular o comboio suburbano da Fertagus, que tem sido alvo de críticas por parte de utentes e associações por não suprir as necessidades dos utentes, após a mudança de horários que se verificou no início do ano não ter sido acompanhada por um aumento no número de carruagens disponíveis.
Descrita como um projeto de “dimensão exploratória”, a iniciativa oferece aos utilizadores da aplicação um desconto de 50% (até dois euros) em 10 viagens por pessoa nas deslocações para todas as estações de comboios e de barco da Margem Sul e vice-versa. Quem efetuar uma dessas viagens terá apenas de introduzir o código UBERMARGEMSUL antes de cada trajeto para ter acesso ao desconto.
“Acreditamos que o transporte público é a espinha dorsal das cidades e queremos ser um complemento eficaz à mobilidade urbana, oferecendo soluções convenientes e sustentáveis para a primeira e última milha da deslocação dos portugueses”, refere Francisco Vilaça, General Manager da Uber Portugal, citado em comunicado. “O Uber Commute é um exemplo concreto de como podemos apoiar um estilo de vida com menos dependência do automóvel, mais acessível e alinhado com os desafios ambientais atuais”, continua.
A escolha da região a sul do Rio Tejo para a implementação do projeto piloto deveu-se, de acordo com a empresa, ao facto de se tratar de uma das principais portas de entrada para Lisboa — diariamente são 75 mil os automóveis que circulam só na Ponte 25 de Abril — funcionando, por isso, como uma demonstração para uma iniciativa que visa desencorajar o uso do automóvel pessoal.
Iniciativas semelhantes têm vindo a ser implementadas noutras cidades onde a Uber opera, como Madrid, Londres, Berlim ou Los Angeles, com resultados globalmente positivos, segundo a empresa.
Sustentabilidade ou greenwashing? Carris Metropolitana critica iniciativa
Para já, o desconto Uber Commute será apenas disponibilizado nas modalidades Uber Green — veículos 100% elétricos — e Uber Share — viagens partilhadas. A empresa justifica a decisão com a intenção de promover a sustentabilidade e valorizar o meio ambiente, posicionando a Uber enquanto “agente ativo na transição para uma mobilidade mais verde em Portugal”, de acordo com o comunicado.
No entanto, nem todos vêm a iniciativa com bons olhos. É o caso da Carris Metropolitana (CM), empresa gestora da rede de autocarros da Transportes Metropolitanos de Lisboa (TML), a operar na Margem Sul, considera que a ação da Uber representa sobretudo um “posicionamento de marca” e uma tentativa de se afirmar como alternativa ao transporte público.
Citada pelo jornal Público, a empresa fala mesmo em “greenwashing” — termo utilizado para ofuscar práticas de negócio duvidosas debaixo do apelo à causa ambiental. “Eles não são um transporte público, não facilitam o acesso das pessoas ao transporte público e não são uma alternativa ao transporte público. Não vêm resolver o problema de mobilidade das pessoas e até podem contribuir para o agravar”, diz a entidade, dando como exemplo o possível aumento dos congestionamentos provocado pela circulação de veículos TVDE.
A empresa alega ainda que a iniciativa se insere numa lógica concorrencial entre a Uber e o próprio serviço de autocarros da Carris Mertropolitana que, desde a sua implementação na Margem Sul em 2022 tem vindo a crescer, e apela à intervenção das entidades reguladoras. “Alguém tem de atender aos efeitos de escala que uma coisa destas poderá ter”, argumenta.
“Era um serviço ótimo”, mas agora está “o caos”: operação da Fertagus continua a gerar queixas