Ministério da Saúde abriu apenas uma vaga para novos médicos de família na ULS Almada-Seixal, mantendo 38 mil utentes sem médico, o que agrava a crise nos cuidados de saúde primários.
A abertura de apenas uma vaga para médicos de família na Unidade Local de Saúde de Almada-Seixal (ULS-AS), enquanto são necessários pelo menos 30 profissionais para responder às necessidades da comunidade, está a gerar preocupação e apelos por parte dos médicos e especialistas.
De acordo com o despacho da Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS), publicado no final de dezembro de 2024, foi aberto um procedimento concursal para o recrutamento de 240 médicos de medicina geral e familiar e saúde pública em várias regiões do país. No entanto, à ULS-AS, que abrange os concelhos de Almada e Seixal e conta com cerca de 38 mil utentes sem médico de família, foi atribuída apenas uma vaga, de um mínimo de 14 solicitadas pela unidade.
“A abertura de apenas uma vaga para contratação de médicos especialistas em Medicina Geral e Familiar, perpetua a falta de médicos de família na nossa região, gerando um impacto significativo na carga de trabalho dos profissionais existentes e na qualidade dos cuidados de saúde prestados à população”, afirma Ana Martins Soares, médica recém-especialista em Medicina Geral e Familiar, que também aguarda pela resposta do concurso, ao ALMADENSE. Atualmente a exercer na Unidade de Saúde Familiar (USF) Nova Caparica, em título provisório, a profissional atende cerca de 1800 utentes e enfrenta diariamente limitações decorrentes da elevada carga de trabalho e do tempo restrito por consulta.
Dificuldades para os utentes e para os médicos
Segundo Ana Soares, “com a pressão que muitas vezes se sente para atender um grande número de pessoas, o tempo dedicado a cada consulta torna-se algumas vezes insuficiente para avaliar adequadamente o caso do utente”, o que consequentemente faz com que se comece a recorrer frequentemente aos serviços de urgência para problemas que poderiam ser resolvidos em cuidados primários, agravando ainda mais a pressão sobre o Sistema Nacional de Saúde (SNS).
Para além disso, os médicos também enfrentam uma sobrecarga administrativa, que inclui tarefas como preencher relatórios, renovar receitas e gerir sistemas eletrónicos. Este excesso de responsabilidade, sem nenhuma ajuda extra, reduz bastante o tempo que têm disponível para consultas, o que, mais uma vez, compromete a qualidade do atendimento aos utentes. Com o envelhecimento da população e o aumento das doenças crónicas, é necessário um acompanhamento mais exigente, que não está a ser possível devido à pressão significativa sentida pelos médicos.
Consequências no Sistema Nacional de Saúde (SNS)
A insuficiência de vagas acaba por contribuir para a migração de médicos para o setor privado, onde encontram melhores condições de trabalho, uma maior remuneração e menor pressão. No entanto, embora a médica Ana Soares saiba que estas saídas estão relacionadas com uma “inevitável sobrecarga de trabalho dos médicos que se mantém em funções”, também sabe que esta situação alimenta um ciclo vicioso: “A saída de médicos para o setor privado sobrecarrega ainda mais os profissionais que permanecem no SNS, alimentando um ciclo contínuo de desmotivação e saída”, afirma ao ALMADENSE. Assim, o setor privado torna-se mais acessível “para quem pode pagar”, enquanto os grupos mais vulneráveis ficam mais dependentes de um SNS “debilitado”, agravando as desigualdades no acesso a cuidados de saúde.
A longo prazo, as consequências por falta de médicos de família, na visão de Ana Soares, podem levar a diagnósticos tardios e ao agravamento de doenças crónicas, aumentando as hospitalizações, complicações maiores e até mortalidade. Havendo também um aumento dos custos para o SNS e para os próprios utentes.
Apelo por soluções imediatas
Numa resposta enviada à agência Lusa, a ULS manifesta já ter solicitado à Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS) a revisão do número de vagas, reiterando que há médicos disponíveis para integrar os quadros, mas sem oportunidades devido à limitação de vagas. Também a Federação Nacional dos Médicos (FNAM) manifestou indignação com a situação em Almada-Seixal e em outras regiões do país.
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