Entre 1974 e 1975, Portugal esteve no centro da atenção mundial. A partir de 24 de maio, 200 fotografias que documentam os momentos mais intensos da Revolução Portuguesa pelo olhar de fotógrafos de renome internacional podem ser vistas junto à antiga Lisnave.
Entre ruas cheias de cravos, enquanto Portugal se encontrava no momento mais decisivo da sua história, os olhares do mundo estavam atentos. Fotógrafos vindos dos quatro cantos do globo registaram a revolução em tempo real. Agora, essas imagens integram a exposição “Venham Mais Cinco”, que reúne pela primeira vez em Portugal e em grande formato, estas 200 fotografias assinadas por nomes como Sebastião Salgado, Guy Le Querrec, Jean Gaumy, Dominique Issermann, Fausto Giaccone, cujos trabalhos já foram publicados em jornais e revistas de todo o mundo.
A galeria, com curadoria de Sérgio Tréfaut, revela um dos períodos mais intensos da história contemporânea portuguesa, reunindo obras de 30 fotógrafos internacionais que estiveram em Portugal durante o período revolucionário de 1974-75. A inauguração de “Venham Mais Cinco — O Olhar Estrangeiro sobre a Revolução Portuguesa” está marcada para sexta-feira, dia 23 de maio, às 21h, no Parque Empresarial da Mutela, em frente à antiga Lisnave, em Almada. A exposição, que tem entrada gratuita, estará patente entre 24 de maio e 24 de agosto, estando aberta de quinta a domingo, das 11h às 19h.
Quatro núcleos temáticos
Organizada em homenagem à fotografa e autora Margarida Medeiros — que esteve na origem do projeto nos anos 90 e o defendeu por três décadas, até ao final da sua vida —, a exposição divide-se em quatro núcleos temáticos: “A Festa da Liberdade”, que aborda a redescoberta da liberdade e da palavra; “Novas Formas de Poder”, que trata novos partidos, a dinamização cultural do MFA e o poder popular; “Independências”, que explora o regresso dos portugueses das ex-colónias e “Um País Dividido”, que mostra os confrontos ideológicos.
O percurso expositivo segue uma lógica narrativa, agrupando fotografias por temas e cruzando a cronologia com contraste visual, em que “duas imagens de momentos diferentes, podem estar lado a lado por contraste, estabelecendo choques e pontes”, refere Sérgio Tréfaut, citado em comunicado, propondo uma leitura dramática e simbólica do processo revolucionário português.
A origem de “Venham Mais Cinco – O Olhar Estrangeiro sobre a Revolução Portuguesa”
“‘Venham mais cinco’ foi uma ideia que surgiu no Verão de 1993, quando Margarida Medeiros e Ana Soromenho me desafiaram a produzir uma grande exposição com as imagens dos fotógrafos estrangeiros que haviam retratado o processo revolucionário português”, acrescenta Sérgio Tréfaut.
Originalmente, o projeto foi concebido para assinalar os 20 anos da Revolução de Abril, em 1994, mas acabou por não se concretizar na época, uma vez que “não era politicamente oportuna”, explica. Em 1999, parte da investigação feita pelo próprio e Margarida Medeiros veio a ser transformada no documentário “Outro País”, também da autoria de Tréfaut. No entanto, a exposição continuou adiada até 2023, ano em que, com o apoio da Comissão Comemorativa dos 50 anos do 25 de Abril e do Ministério da Cultura, foi possível avançar com a sua realização.
O título da exposição remete para a canção “Venham Mais Cinco”, de José Afonso — inicialmente escolhida pelos militares do MFA para ser tocada no Rádio Renascença na madrugada de 25 de Abril de 1974, como senha do golpe militar, antes de ser substituída por “Grândola, Vila Morena” — numa homenagem simbólica ao cantor e ao espírito revolucionário que o 25 de Abril representou: “(…) ficámos à espera de mais cinco revoluções”, conta Sérgio Tréfaut.
Um olhar estrangeiro sobre um país em revolução
Entre abril de 1974 e novembro de 1975, Portugal foi manchete diária na imprensa internacional. O fim súbito de uma ditadura com 48 anos, a incerteza que marcou os primeiros passos da democracia e a descolonização de grandes países africanos atraíram fotojornalistas de todo o mundo para Portugal. Muitos vieram em curtas missões, outros permaneceram durante meses, registando a intensa participação popular, o quotidiano dos portugueses e o confronto de ideologias.
A galeria de fotografias começa no final de Abril, documentando momentos icónicos como a Revolução dos Cravos, a queda da PIDE, a chegada dos exilados, a manifestação do 1.º de Maio de 1974, as campanhas do MFA, a Reforma Agrária, as independências em África ou o regresso dos “retornados”. A exposição “Venham Mais Cinco” culmina com o ambiente de tensão crescente que levou ao 25 de Novembro de 1975, data que marca o fim do período revolucionário.
Publicado paralelamente, o livro “Venham Mais Cinco – O Olhar Estrangeiro sobre a Revolução Portuguesa”, publicado pela editora Tinta da China e que conta com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian, da Comissão Comemorativa 50 anos 25 de Abril e da Câmara Municipal de Almada, permite (re)ver o país num “período decisivo da história de Portugal” pelos olhares de quem veio de fora para captar a “sucessão vertiginosa dos acontecimentos”.
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