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A equipa de futsal feminino do Feijó joga “por amor à camisola” (e está na primeira divisão)

No Futsal Feijó, equipa feminina que chegou às meias-finais da Taça de Portugal na passada sexta-feira, corre-se por gosto e derrubam-se estigmas. Um clube com 60 meninas e mulheres em que “todos empurram para o mesmo lado” e onde, mesmo sem muitos apoios, se chega ao quinto lugar a nível nacional.

 

“E nós acreditamos em vocês! Allez allez allez Feijó allez!”, grita o público nas bancadas do pavilhão junto à Escola Básica da Alembrança. As jogadoras concentram-se. A equipa de Futsal Feminino do Feijó acaba de empatar contra o Braga, levando o jogo a prolongamento. São os quartos de final da Taça de Portugal e, com o apoio dos Torcidos – a claque oficial do Futsal Feijó – e o esforço das atletas, Inês Padinha marca, sagrando a vitória do Feijó e deixando a plateia ao rubro.

Com mais de 60 atletas divididas por quatro escalões etários, muitas delas de Almada, o Futsal Feijó é o quinto maior clube de futsal feminino a nível nacional. “É algo de que nos orgulhamos muito”, indica Pedro Silva, um dos cinco diretores. Nascido pela mão do professor Pedro Alves, em 2007, o Futsal Feijó começou na Sociedade Recreativa Estrelas do Feijó, desvinculando-se em 2016, mas mantendo o nome da localidade que o viu crescer. Desde aí, esta é a primeira vez que o clube chega às meias-finais da Taça de Portugal.

Ao ver esta prestação, ninguém diria que o Futsal Feijó é uma família amadora onde tudo se faz “por amor à camisola”, como indica Ayslyne Silva, ou “Ash”, em entrevista ao ALMADENSE. “O espírito do clube é este: vestir o fato-macaco e ir até ao fim”. Com 27 anos, a jogadora universal confessa estar no Futsal Feijó “há mais de metade da sua vida”. Daqui só se afastou para passar duas épocas na Quinta dos Lombos, em Carcavelos. “Mas eu sou toda Feijó!”, promete entre risos.

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A 29 de março, a luta entre Feijó e Torreense é renhida, com a vitória do último a decidir-se apenas nos penáltis. A guarda-redes “Pris”, a capitã “Guida”, “Ash”, Padinha, Nina, Martinha e Carolina Liliu e restantes companheiras, que contam com o apoio do treinador Diogo Patrica, podem regressar ao ginásio junto à escola da Alembrança sabendo que cumpriram o grande objetivo do clube para esta época: chegar às meias-finais da Taça. A verdade é que, ao longo dos anos —e apesar das dificuldades— o Futsal Feijó continua a crescer, alcançando cada vez mais conquistas e recebendo cada vez mais atletas.

 

O longo caminho para a profissionalização

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Equipa do futsal Feijó. Bruno Marreiros / Almadense

Tal como as restantes jogadoras do Feijó, “Ash” não é profissional. Com o treino três vezes por semana, das 20h às 22h, e o jogo ao fim de semana, conjuga dois empregos, um a tempo inteiro e outro a tempo parcial. “Por vezes é complicado, tenho de trocar turnos para poder estar aqui no clube. Chega a ser muito cansativo. Mas, quando olhamos para os resultados, vemos que o nosso trabalho árduo traz muitas coisas boas”. Para a atleta almadense, a ambição é de que “o futsal passe a ser um emprego a tempo parcial”, para poder dedicar-se (ainda) mais.

“Acho que haver uma profissionalização também era bom para muitas meninas que vêm a seguir. Gostava que fizéssemos agora o caminho para que todas aquelas que venham depois consigam dar o salto, e não pensem em ir para fora jogar futsal. Porque a verdade é esta: para serem profissionais têm de ir para fora”. Esperançosa, “Ash” pensa no futuro das “traquinas”, de quem já foi treinadora durante três anos.

O certo é que é muito difícil ser profissional de futsal feminino em Portugal. Quem o explica é Pedro Silva, um dos cinco dirigentes do clube e “um bocadinho de tudo e mais alguma coisa”, que faz parte da família do Futsal Feijó há dez anos. “No país, só há quatro, cinco equipas que têm atletas profissionais”. O dirigente compara o panorama nacional com Espanha, que diz estar “muito mais à frente”.

Paulo Santos, vice-presidente do Futsal Feijó e treinador que dá apoio a todas as equipas, acrescenta que “ainda falta muito caminho para a profissionalização”, mesmo sendo cada vez mais as competições em que a equipa participa. “Há pouco apoio no feminino”, indica, “e no futsal ainda mais. Damos uma pequena ajuda às atletas, mas não podem fazer vida disto”. No Futsal Feijó, as jogadoras da equipa sénior recebem entre 100 e 150 euros por mês, valor que no caso das atletas que vivem em Lisboa serve apenas para pagar a gasolina que gastam para ir aos treinos.

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Em Portugal, “nem mesmo o Benfica tem todas as atletas profissionalizadas”. À filha, também ela talentosa jogadora de futsal, Pedro aconselha a que “faça a faculdade e arranje um emprego, porque é isso que a vai manter. Se conseguir tirar 300, 400 euros do futsal, que é uma coisa de que ela gosta, isso já é muito bom”. No entanto, a falta de profissionalização traz problemas: para ir a Sines nesta sexta-feira, por exemplo, é preciso partir na quinta-feira anterior, e entre treinadores e jogadoras, muitos são os que tiveram de tirar o dia de férias.

Para Paulo, é essencial neste momento aumentar a visibilidade do clube e, dessa forma, chamar mais patrocinadores para além da Metaseguros, seguradora de Lisboa que apoia o Futsal Feijó. “Somos a única equipa de Almada que está na primeira divisão. Nesse sentido, não conseguimos alcançar mais e, mesmo assim, fala-se pouco de nós no concelho”. Também Pedro Silva destaca a importância de dar a conhecer o futsal feminino, muitas vezes duplamente relegado para segundo plano – por não ser masculino e por não ser futebol.

 

Combater o estigma: “no Feijó estamos sempre a batalhar”

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Da esquerda para a direita: “Guida”, o treinador Paulo Santos e “Ash” no campo do Feijó

 

Apesar de haver cada vez mais jogadoras, casos como o de Ayslyne ou de Margarida Alves, que jogam à bola desde pequenas, ainda são raros. “Nós sempre quisemos ter só meninas, era esse o objetivo, mas a verdade é que aparecem 20 rapazes para uma menina”, indica Pedro Silva. Em 2016, quando o Futsal Feijó começou, tinha nas camadas mais jovens muitos atletas masculinos, com a ideia de que fossem aparecendo mais meninas. “De 15 miúdos para 2 miúdas, passámos para metade-metade e mais tarde ficámos só com elas”.

Para Pedro e Paulo, foi sempre importante que o Futsal Feijó fosse uma casa para as jogadoras de Almada, cidade ainda dominada pelo desporto masculino, para o qual há muitas equipas. “Ainda há muitos pais que não veem com bons olhos as raparigas jogarem”, aponta Paulo. “Ainda há um estigma que tem de ser combatido”.

É isso que Margarida Alves, ou “Guida”, combate todos os dias. A capitã de equipa, de 26 anos, fala descontraidamente da forma como conjuga o emprego com os treinos de futsal, não deixando transparecer o cansaço que os dias longos podem despertar. Vivendo na Sobreda, a atleta trabalha das 9h às 18h em Lisboa e, ao fim do dia, regressa à margem sul para treinar no pavilhão junto à Escola Básica da Alembrança.

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Margarida está no Feijó há 14 anos. Hoje, recorda como em 2010, depois de sair de um escalão em que jogava com rapazes, andou com o pai por Almada à procura de uma equipa onde pudesse jogar. “Um dia, passámos de carro por aqui, vimos umas meninas equipadas, o meu pai baixou o vidro e perguntou se eram jogadoras de futebol. Elas explicaram como funcionava o Futsal Feijó, vim experimentar um treino e nunca mais deixei”. Tendo passado pelo Benfica, Guida confessa que é no Feijó que sente estar a fazer a diferença.

Para a capitã, é por ter “os pés bem assentes na terra” que o Futsal Feijó tem conquistado tanto. “Não queremos tudo de uma vez, mas temos objetivos bem traçados para cada ano, e conseguimos sempre atingi-los. Este ano queríamos chegar à meia-final da Taça de Portugal, e isso já conseguimos”, diz a sorrir. “No Feijó nunca desistimos, estamos sempre a batalhar”.

 

“A partir do momento em que se chega lá, não se quer voltar atrás”

Margarida foi crescendo, desde os 12 anos, com o Feijó, passando aí os seus anos formativos. “Ao tornar-me capitã, tive de me tornar mais responsável”, confessa, “e tem sido incrível ao longo destes anos ver o crescimento do clube”, que se consegue com “muito investimento de várias partes”, passando pela televisão, com o Canal 11 a transmitir todos os jogos no seu canal de youtube, pela Metaseguros, pela Junta de Freguesia do Laranjeiro e Feijó, que apoia o clube, ou mesmo pela Câmara Municipal de Almada, que disponibiliza o espaço.

Com a maior parte do orçamento destinado à equipa sénior, o clube arrecada em pagamento de quotas cerca de mil euros por mês, a que se juntam os apoios anuais da Federação Portuguesa de Futebol e da Placard, patrocinadora oficial do Futsal. Porém, os apoios não chegam para dar margem de manobra a um clube em que os dirigentes trabalham pro bono e os treinadores recebem apenas o suficiente para não terem despesa com as deslocações. Entre viagens para participar em competições, material e pessoal médico, despesas em contratação de polícia e deslocação de ambulância, necessárias aos jogos em casa, muitos são os custos com que se depara o Futsal Feijó.

 

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O dirigente Pedro Silva.

 

Foi a impossibilidade de fazer face às despesas que obrigou, há seis anos, o clube a descer da primeira divisão onde se encontrava, não por fracos resultados mas por incapacidade financeira. “Nesse momento ficámos abatidos”, confessa Pedro Silva, “porque a partir do momento em que se chega lá, não se quer voltar atrás. Mas depois, com a ajuda de todos, conseguimos resolver”. Hoje, o que o Futsal Feijó pede é mais espaço para jogar, mais apoio por parte da Câmara Municipal de Almada – nomeadamente nas deslocações, feitas muitas vezes em viatura própria – e mais visibilidade para aquela que é a única equipa almadense numa primeira divisão.

Pedro e Paulo continuam, entretanto, a dar ao clube horas de trabalho e dias de férias. Para além disso, os dirigentes fazem questão de nunca recusar nenhuma jovem que não possa pagar os 35 euros de quota mensal: “não as mandamos embora. Acabamos por compor alguma mensalidade em falta com, por exemplo, o pouco que fazemos com a venda de merchandise”.

Ultimamente, o clube tem investido em captar ex-atletas para outras funções, com a de treinadora. Assegurando os custos do curso profissionalizante, o Futsal Feijó apenas pede que as treinadoras formadas fiquem no clube alguns anos, o que acaba sempre por acontecer. Para Pedro, “ainda há muita desconfiança por parte dos homens em relação às treinadoras, não acreditam que elas sejam capazes”. No entanto, já se vai vendo “em alguns países nórdicos ou mesmo em Inglaterra” mulheres que treinam equipas masculinas.

Para o futuro, Pedro, Paulo, “Ash” e “Guida” querem mais títulos e melhores condições para as meninas e mulheres do Futsal Feijó, um clube especial “onde todos empurram para o mesmo lado” e, acrescenta Pedro, “onde se está mesmo por gosto”. Onde, embora se saiba que quem corre por gosto não cansa, também se sabe que, com apoio, os golos ficam mais fáceis de marcar.

 

Fotos: Bruno Marreiros

 

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