“Sem chave não saio! Realojamento já!” foram as palavras de ordem dos habitantes do bairro, que se concentraram esta quinta-feira no Jardim da Cova da Piedade.
Os moradores do bairro do Segundo Torrão manifestaram-se esta quinta-feira, dia 13 de outubro, em frente ao Chalet Ribeiro Telles, na Cova da Piedade, para exigirem uma solução de realojamento digna para os habitantes que permanecem nas casas construídas em cima da vala de drenagem de águas pluviais que se encontra em risco de derrocada e para as famílias que ainda não têm uma solução habitacional definitiva.
“Temos o direito de exigir um realojamento digno com todas as condições para cada família. Estamos aqui por aqueles que estão a viver em bungalows, em pensões e todos os outros que estão a trabalhar e não puderam vir”, afirmou um morador do bairro, através que um altifalante dirigindo-se a todos os que estavam reunidos no Jardim da Cova da Piedade.
Os habitantes que se fizeram ouvir nesta tarde encontram-se em situações distintas, mas todos se unem na exigência de uma habitação digna para as famílias. “A CMA tem mostrado uma total insensibilidade humana. Vim aqui manifestar o meu protesto e insatisfação”, afirmou Caramo Cassamá que, apesar de viver no bairro há 25 anos, não conta ainda com uma solução habitacional.
Por sua vez, Job Rocha, morador do bairro do Segundo Torrão, contestou “o critério de exclusão das famílias do processo de realojamento por não aparecerem numa reunião é inaceitável e discriminatório. As famílias que não apareceram foram consideradas ilegítimas”.
“O que se passa no Segundo Torrão é desumano”
“O processo de realojamento do bairro tem decorrido com extrema incompetência desde o primeiro dia. O que se passa no Segundo Torrão é desumano”, afirmou, por seu lado, Renata Camargo, da associação Canto do Curió, que efetua trabalho social no bairro e se associou ao protesto.
“Há pessoas que permanecem no bairro sem água e sem luz, há grávidas que ainda não sabem onde vão morar, há famílias separadas, há pessoas em risco de perderem os seus empregos”, acusou, referindo a pressão sofrida por alguns moradores, “obrigados a assinar documentos enquanto as casas ao lado estavam a ser demolidas”.
Também presente na manifestação, a advogada Marina Caboclo, representante de sete famílias do bairro que apresentaram providências cautelares que impediram a demolição de várias casas, afirmou que o processo de realojamento levado a cabo pela Câmara de Almada está a ser “discriminatório”, criticando o facto dos moradores não terem tido acesso aos relatórios que sustentam a necessidade de demolição urgente das habitações. “A Câmara entende que porque o bairro foi autoconstruído os moradores não têm direitos”, afirmou, apontando ainda o “racismo e xenofobia do processo”.
Além disso, a autarquia “abandonou o amianto e os destroços no bairro, que estão a causar pressão na vala e podem causar um acidente”, o que, para a advogada, demonstra que a Câmara “não tem preocupação com a segurança das pessoas”.
Paralelamente, alguns dos moradores lançaram também uma petição pública que pede “uma solução de realojamento segura e digna e a suspensão das demolições até que os moradores tenham garantia de uma solução habitacional”, que conta já com mais de 500 assinaturas online. “Não vamos abandonar as nossas casas sem a garantia de ter outra para morar”, pode ler-se no documento.
Com Maria João Morais
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