Conselho de Ministros mandatou IP para desenvolver uma série de projetos rodoviários, que incluem a ligação entre a Trafaria e Algés. Autarquias aplaudem a decisão; associações e partidos políticos questionam os impactos.
O projeto para o túnel submerso entre a Trafaria e Algés é uma das 31 obras consideradas “prioritárias” pelo Governo e incluídas no pacote rodoviário aprovado no Conselho de Ministros que decorreu segunda-feira, dia 10 de março. A confirmação surge depois de, nas últimas semanas, terem vindo a público notícias sobre a intenção do Executivo de avançar com o projeto.
De acordo com o comunicado do Conselho de Ministros, publicado na manhã desta terça-feira, o mesmo dia em que o Governo liderado por Luís Montenegro (PSD) enfrenta uma moção de confiança na Assembleia da República, pode ler-se que foi aprovada uma resolução “que determina à Infraestruturas de Portugal o desenvolvimento de projetos rodoviários prioritários. O objetivo é dar sequência ao estudo de novas vias, tendo em consideração os planos e programas já definidos e seguidos neste âmbito — dos quais se destacam o Plano Rodoviário Nacional e o Programa Nacional de Investimentos 2030”.
O mesmo comunicado refere que, entre os objetivos adicionais deste plano, está contemplada “a complementaridade da rede rodoviária com os grandes projetos em curso, designadamente o novo aeroporto e os novos eixos ferroviários – Alta Velocidade”, e ainda a intervenção “intervir nas vias da rede rodoviária existente, tendo em vista dotá-las de capacidade e condições de circulação e segurança adequadas”.
A ligação entre a Trafaria (no concelho de Almada) e Algés (em Oeiras) é um dos projetos previstos, de acordo com uma publicação partilhada pelo ministro das Infraestruturas, Miguel Pinto Luz, na rede social Instagram. A ideia já tinha sido veiculada pelo mesmo governante numa conferência organizada pela Associação dos Industriais da Construção Civil e Obras Públicas (AICCOPN) no mês passado, durante a qual deu indicações de que o Executivo pretendia “tirar da gaveta” esta obra.

O projeto do túnel rodoviário permitiria a ligação da CRIL, que termina em Algés, à A33, a Sul, dando resposta ao grande aumento do tráfego na Ponte 25 de Abril nas últimas duas décadas. Importa referir que 80% da circulação acontece no sentido Norte, a partir dos concelhos de Almada e Seixal, e 37% dos veículos que a atravessam a ponte têm como destino Oeiras, Cascais e Sintra.
Estimativas da Câmara Municipal de Almada apontam para que o túnel tenha um custo de 1,1 mil milhões de euros, estando prevista a sua construção ao longo de um período de sete anos. A obra vinha há muito sendo apoiada pelos autarcas da região, pelo efeito de diminuição da pressão sobre o tráfego na ponte, e sobretudo pelo seu potencial de ligar a zona da Trafaria ao eixo Oeiras-Cascais, onde milhares de habitantes da Margem Sul trabalham, e até pela possibilidade que abre de expansão do traçado do metro de superfície à rede de transportes de Lisboa.
Autarquia aplaude projeto, mas há dúvidas quanto à sua viabilidade e impacto ambiental
Ainda em fevereiro, aquando do surgimento das primeiras notícias que davam conta da reapreciação desta obra pelo governo central, a presidente da Câmara de Almada salientou “a satisfação” do executivo camarário face ao “compromisso” assumido, sublinhando que “tem sido uma luta da autarquia desde que o Partido Socialista tomou posse, em 2018.
À Antena 1, Inês de Medeiros adiantou que a obra em nada iria prejudicar outros projetos de ligação das margens do Tejo, como a travessia ferroviária Chelas-Barreiro. “[O túnel] não põe em causa qualquer outra travessia que esteja a ser pensada, até no âmbito do novo aeroporto, uma coisa não impede a outra. Se neste momento já é fundamental garantir uma nova travessia, imagine-se depois, com uma infraestrutura como o novo aeroporto”, afirmou.
No entanto, pese embora o anúncio oficial do plano de estudos, o projeto enfrenta vários obstáculos — desde logo, a ausência de qualquer trabalho significativo no terreno para aferir os impactos da obra, que teriam de ser efetuados. Há ainda questões quanto à dificuldade de execução do projeto e a solução de engenharia apresentada, bem como ao nível do impacto do projeto no ambiente e no ordenamento do território.
Em comunicado, a Associação ZERO já se manifestou contra a ideia. A organização “considera inaceitável que, num momento em que as emissões do setor dos transportes colocam gravemente em risco as metas climáticas do país, sejam apresentadas ideias que agravariam seriamente esses riscos através do aumento de capacidade dos acessos rodoviários à capital do país”, defendendo antes que a solução deve passar antes pelo reforço da rede ferroviária e de transportes públicos das duas margens.
Politicamente, os núcleos do partido Livre de Almada e de Oeiras-Cascais também denunciaram a ideia. A formação “rejeita o plano de expansão e promoção do transporte rodoviário que está a ser levado a cabo pelo atual Governo, com o recém-noticiado ‘megapacote de infraestruturas’ a nível nacional, no qual se inclui o túnel rodoviário imerso que ligará Trafaria e Algés”, que descreve como “um projeto que prejudica o Tejo, incentiva o uso do automóvel e piora a qualidade do ar”.
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