A Transtejo serve atualmente dois terminais fluviais no concelho de Almada, com milhares de deslocações diárias, mas aquilo a que todos assistimos é que os anos vão passando e continuamos com um serviço ineficiente e incapaz de servir com qualidade os utentes.
Serviço público é um serviço fornecido a pessoas atendendo a uma necessidade existente, seja prestado através do setor público ou através do sector privado. No caso da Transtejo, os governos têm optado por ser um serviço 100% público.
Todos nós, mas sobretudo os milhares de utentes que diariamente usufruem deste serviço, consideram-no um serviço essencial para estudar e trabalhar na outra margem do Tejo.
Como se não bastasse a sobrelotação e a falta de manutenção adequada, a Transtejo brinda-nos com os sucessivos “constrangimentos técnicos da frota” que levam às constantes supressões. Umas devido a avarias, outras pela constante reivindicação por parte dos trabalhadores que contestam melhorias salariais e contratação de mais funcionários.
E é assim, de greve em greve, de paralisação em paralisação, de plenário em plenário, que a Transtejo vai esticando a corda a cada trabalhador e a cada utente.
Numa altura em que os portugueses têm cada vez mais dificuldade em pagar as suas contas, os utentes que necessitam deste serviço para estudar e trabalhar, são obrigados a usar meios mais dispendiosos, como a sua viatura ou a utilização de TVDE. Ficam obviamente de fora todos os utentes que não têm alternativa. E isto tem impacto na vida e na carteira de cada utente!
Em 2019, António Costa, curiosamente em ano de eleições europeias e legislativas, prometeu renovar a frota obsoleta e a Transtejo cumpriu.
Desprezando as instituições conhecedoras de transportes e mobilidade, a Transtejo colocara a concurso, a aquisição de embarcações com propulsão a gás natural, que naturalmente não acolheu qualquer proposta. Mas numa clara propaganda política e numa intenção de mostrar à União Europeia que Portugal estava na linha da frente da descarbonização, a Transtejo fez algo que nenhum país no mundo tinha conseguido. Adjudicou dez navios elétricos por 52,4 milhões de euros. Sim, 52,4 milhões de euros, mas apenas um com bateria.
Numa fase em que o país acreditava ainda em António Costa, esta propaganda silenciou os partidos que suportaram a geringonça e nada os fez despertar para o problema que aí vinha. Agora, em 2023, depois da compra de nove baterias, pelo valor de 15,5 milhões de euros, o Tribunal de Contas vem considerar este comportamento irracional e ilegal!
De imediato, a presidente do conselho de administração, Marina Ferreira pediu a demissão, mas afirma que o procedimento foi bem feito e que promoveu o interesse público. Infelizmente, já vamos tarde em analisar a competência do Conselho de Administração porque tudo o que fizeram foi do inteiro conhecimento do Governo e autorizado e consentido por ele. Insistir nessa análise conduz apenas à desresponsabilização de quem governa.
Ora, a Transtejo serve atualmente dois terminais fluviais no concelho de Almada, com milhares de deslocações diárias, mas aquilo a que todos assistimos é que os anos vão passando e continuamos com um serviço ineficiente e incapaz de servir com qualidade os utentes.
E quando tudo parecia ficar por aqui, eis quando surge a notícia inusitada de que o Cegonha-Branca, o primeiro navio elétrico (já com bateria) chegou, mas sofre danos no casco e tem de ser reparado. Seria cómico, se não estivéssemos a falar de dinheiro público.
É hora do Governo dar uma resposta firme aos trabalhadores e aos almadenses e não permitir que uma empresa fique refém dos sindicatos e que prejudica os utentes.
Que tem a dizer a senhora presidente da Câmara Municipal de Almada, Inês de Medeiros, sobre um problema que tanto aflige os utentes da Transtejo?
Que tem a dizer o Primeiro-ministro António Costa sobre negócios que lesam o estado e os seus contribuintes?
Se o Governo não tem condições para gerir aquilo que lhe pertence, então pense em privatizar a Transtejo dando oportunidade a outra entidade de gerir com competência e eficiência. Os utentes e os contribuintes agradecem!
Sendo os transportes e mobilidade uma área crucial para a economia do país, temos mais uma prova de que o Partido Socialista não pensa no futuro das novas gerações.
“Lesados do Tejo”, a novela que promete continuar com episódios negros e com a sua frota completamente obsoleta, não dará descanso aos protagonistas dos trabalhadores que continuarão a reivindicar os seus diretos, aos utentes que continuarão a reclamar do serviço não prestado e aos contribuintes que pagarão tudo isto.
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