Obra retrata o trabalho desenvolvido durante cinco anos pelo Ateliermob Colectivo Warehouse no bairro Terras da Costa.
A construção de uma cozinha comunitária, a instalação de eletricidade e o processo de realojamento que ainda decorre são os aspetos centrais do livro “Terras da Costa”, que dá conta do trabalho realizado pelo Ateliermob Colectivo Warehouse naquele bairro de origem clandestina entre 2012 e 2017. A apresentação decorreu dia 8 de julho, no Museu da Cidade de Almada.
Atualmente com cerca de 500 moradores, maioritariamente de origem cabo-verdiana e de etnia cigana, as Terras da Costa são situam-se junto à arriba fóssil da Costa da Caparica, num lugar privilegiado do ponto de vista natural e agrícola.
O livro serve como um registo de todo o trabalho feito no projeto que começou no âmbito do workshop “Noutra Costa”, promovido pelo Departamento de Arquitetura e pelo Centro de Estudos de Arquitetura, Cidade e Território da Universidade Autónoma de Lisboa.
Um dos pontos fulcrais do projeto foi a construção da cozinha comunitária em 2014, que tinha como objetivo permitir aos moradores o acesso a água potável, mas também que servir como um espaço para toda a comunidade. “É engraçado porque a cozinha não foi utilizada só como cozinha. Quando havia algum problema e os moradores combinavam uma reunião, nem se dizia o local, já era assumido que seria na cozinha comunitária. Mesmo as crianças realizavam todas os trabalhos de casa no espaço”, disse Ana Catarino, integradora do projeto, que venceu o Prémio Archdaily Edifício Público do ano de 2016.
Atualmente, mais de 50 famílias em situação precária aguardam pelo processo de realojamento, que tem encontrado alguns entraves. “O realojamento está a demorar mais porque alguns moradores não querem ser realojados sozinhos, é uma situação complicada”, explicou Tiago Mota Saraiva, integrante do projeto, acrescentando que “é normal que queiram sair todos juntos, e nós somos sempre a favor de ter essa discussão, mas o mais importante é fornecer melhores condições às pessoas”.
Quanto à instalação de eletricidade, foi feita em 2017, depois de se retirarem todas as “puxadas” ilegais de eletricidade no bairro. O serviço é assegurado através de um gerador que alimenta todo o bairro. Sendo um contrato de “obra” tem a “eletricidade mais cara do país”, disse Ana Catarino, isto porque a legislação anterior não permitia contratos individuais aos moradores, porque legitimaria as suas casas. Na situação atual, a legislação já foi alterada e o Coletivo está a trabalhar para alterar as condições contratuais dos moradores. Atualmente, “devido ao tipo de contrato, quando uma pessoa falha com o pagamento, a EDP corta a energia a todos, a não ser que os restantes se cheguem à frente e cubram o custo”, explica.
Durante a apresentação, os integrantes do grupo também destacaram a “simpatia” com que sempre foram recebidos nas Terras da Costa, recusando o estigma que existe quando se fala em visitar o bairro.
Para acompanhar o trabalho realizado, pode visitar o site do projeto. O livro “Terras da Costa” pode ser adquirido aqui.
Foto: Fernando Guerra | FG + SG Fotografia de Arquitectura
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