Inês Sarti Pascoal, especialista em urbanismo sustentável e ordenamento do território
A rede ciclável, para ser inclusiva, tem de estar conectada, para permitir que diferentes pessoas que queiram usar a bicicleta — sejam mulheres, pais a transportar crianças numa cadeirinha, jovens ou seniores, o façam sem receio do tráfego automóvel.
A requalificação da ciclovia entre Cacilhas e o Centro Sul foi um dos projetos vencedores do Orçamento Participativo (OP) de Almada em 2021. No entanto, esta requalificação tem vindo a ser realizada aos troços, sem recorrer às melhores práticas urbanísticas ou de participação pública. Os dois troços que já foram alvo de intervenção por parte da Câmara Municipal de Almada (CMA), não têm ligação entre si, pelo que não existe continuidade neste percurso. Conclui-se que a execução do projecto vencedor do OP Almada 2021 está ainda por concluir. Para quando a terceira fase de intervenção? Para quando as ligações às interfaces de Cacilhas e do Centro Sul?
No início de 2024, a CMA inaugurou a requalificação de 1,46 quilómetros deste percurso ciclável, desde a rotunda do Canecão até à rotunda do Hospital Particular de Almada. A obra consistiu maioritariamente na colocação de pilaretes de plástico. Neste momento, muitos destes pilaretes já não existem, o que revela a falta de proteção que este tipo de infraestrutura oferece para utilizadores/as de bicicleta. Ou seja, afinal não é o melhor equipamento para segregar uma ciclovia numa avenida onde se praticam velocidades rodoviárias elevadas e onde os carros derrubam facilmente os pilaretes, de forma descuidada ou intencional.
Outro problema identificado no projeto vencedor do OP 2021 tinha a ver com a falta de escoamento das águas, algo que também não foi resolvido na intervenção da autarquia. Como é suposto pedalar numa ciclovia alagada? Quando chove, as pessoas têm de usar a estrada para poderem pedalar, mesmo com a ciclovia ao lado. Agora, com pilaretes verticais, é ainda mais complexo entrar e sair da ciclovia! Esta intervenção, cujo custo foi superior ao inicialmente previsto no orçamento participativo, motivou queixas por parte da população que utiliza aquela infraestrutura.
Já em setembro de 2024, a CMA pintou de verde mais 200 metros deste percurso, desta vez na Estrada do Brejo, uma intervenção feita no âmbito das celebrações da Semana Europeia da Mobilidade, com o mote “Ciclovia da Estrada do Brejo vai ser reativada”. Ora, sabe-se que, nesta rua, a ciclovia serve de parqueamento automóvel desde que foi inaugurada — há mais de uma década. O que se continua a assistir desde esta pintura, é exactamente ao mesmo, mas agora em cima de uma ciclovia pintada de verde fresco. Pressupõe-se que é necessário outro tipo de intervenção naquela rua, seja a nível urbanístico, de fiscalização ou mesmo participativo.
Como resultado destas duas intervenções, assume-se que não houve mais ninguém a usar a bicicleta como meio de transporte no concelho de Almada, para além das pessoas corajosas que já o faziam antes.
A rede ciclável, para ser inclusiva, tem de estar conectada, para permitir que diferentes pessoas que queiram usar a bicicleta — sejam mulheres, pais a transportar crianças numa cadeirinha, jovens ou seniores, o façam sem receio do tráfego automóvel. É urgente resolver a descontinuidade ciclável que existe na Estrada Nacional 10, onde existe um grande fluxo rodoviário. É necessário fazer a ligação ciclável até à interface de Cacilhas, pois será para lá chegar que muitas das pessoas utilizam essa ciclovia. É pertinente que o percurso ciclável faça a ligação ao Centro Sul, de modo a conectar duas importantes interfaces de transportes de Almada.
No passado dia 27 de setembro, foi aprovada em Assembleia Municipal de Almada a revisão da rede ciclável do concelho, tendo sido referido que este projeto terá ampla participação pública. As ciclovias de Cacilhas-Cova da Piedade e Cova da Piedade-Feijó estão identificadas como prioritárias, de execução até 2025. Aguardemos essas ciclovias e os momentos de participação pública sobre a rede ciclável de Almada.
Piscinas em Almada: a ideia (abandonada) de uma ampla rede municipal de planos de água
Concordo inteiramente com o artigo, a pista não oferece nenhumas condições de segurança. A câmara limita-se apenas a colocar pilaretes que passado pouco tempo desaparecem. É necessário colocar uma proteção em betão e melhorar o piso para que a água possa escoar. Em Almada é muito dificil fazer pistas para bicicletas porque as ruas são muito estreitas. Deixo uma sugestão: para quando uma pista a ligar Almada à Costa de Caparica? O dinheiro gasto no alargamento do IC20 daria para isso e muito mais.
Concordo plenamente com o comentario sobre a ideia descabida de colocar pilaretes a marcar uma ciclo via, so nesta terra realmente, tirem um dia e vao la fora ver como se faz para promover e icentivar o uso da bicicleta. Sobre a ciclo via ao longo da futura linha do metro da Costa da Caparica e das ideias mais geniais que ja ouvi em Almada.
Seria interessante para efeitos comparativos com outras cidades indicar qual o investimento per capita que estamos a falar – mesmo fraudulento como se mostra. Talvez a CMA tivesse um pouco mais de vergonha.
Muito bom artigo, Almada necessita de uma rede ciclavel, um centro urbano com tanto potencial que acaba por estar cheio de carros e muitas vezes deixando a desejar nas alternativas aos mesmos.