Percursos cicláveis anunciados para Almada preveem a partilha dos passeios entre peões e ciclistas, uma solução que “não promove” a mobilidade suave, podendo aumentar a insegurança e os conflitos, alertam os utilizadores de bicicleta.
Os “Percursos Escolares Cicláveis”, anunciados pela Câmara Municipal de Almada (CMA) para a zona da Sobreda, estão a ser alvo de contestação por parte de utilizadores de bicicleta, que apontam vários problemas no projeto em questão.
De acordo com o executivo camarário, a via terá uma extensão de 1,8 quilómetros, contemplando “a articulação, de forma segura, de três modos de circulação previstos: pedonal, ciclável e rodoviário, com prioridade dada aos modos suaves”. Dotado de um investimento de 765 mil euros, a construção teve início esta semana e deverá estar concluída até meados de 2021.
No entanto, a solução escolhida, que passa pela partilha dos passeios entre peões e ciclistas, está a gerar controvérsia. “Não é aceitável a construção de ciclovias sobre o passeio ou reduzindo os espaços pedonais”, argumenta a Associação de Mobilidade Urbana em Bicicleta (Mubi), numa carta enviada esta semana à CMA.
Além disso, este tipo de “vias ciclopedonais” fomenta o “aumento dos conflitos entre peões e ciclistas, uma vez que não é claro quem tem prioridade”, alerta Inês Sarti Pascoal, residente no Feijó, em declarações ao ALMADENSE. Ao mesmo tempo, a opção poderá também provocar conflitos entre ciclistas e automobilistas: “sempre que existe uma ciclovia mal projetada e os ciclistas circulam na estrada, surgem mais conflitos com automobilistas —fazem razias, buzinões ou mandam os ciclistas para a ciclovia”, aponta a dirigente da Mubi, que utiliza diariamente a bicicleta nas suas deslocações.
No concelho de Almada, onde as ciclovias escasseiam, a opção pelas vias partilhadas entre peões e ciclistas é a única atualmente nos planos da autarquia: o mesmo tipo de solução está previsto para a Estrada Florestal, na Costa de Caparica, e foi aplicado recentemente na estrada da Fonte da Telha. Para a Mubi, trata-se de um exemplo que não deve ser seguido: naquele caso, a “via mista” não retira espaço aos automóveis, não promove uma mobilidade sustentável do concelho de Almada e não aumenta a segurança dos utilizadores da via pública, sejam eles peões ou utilizadores de bicicleta”, refere a associação.
Projeto “aumenta risco de acidentes”
O projeto previsto para a Sobreda suscitou também a preocupação do deputado municipal do PAN em Almada, Artur Alfama, que alertou para a insegurança na via: “sendo uma zona bastante movimentada, a circulação de bicicletas nos passeios irá criar uma séria ameaça a quem por eles caminha, particularmente a população mais idosa”, argumentou, num requerimento enviado à CMA sobre o assunto. Para o responsável, o projeto “não prioriza o uso de meios de mobilidade suave, antes reduz o espaço destinado a peões e aumenta o risco de acidentes”.

O deputado municipal receia ainda que a solução possa violar o Código da Estrada, uma vez que este “proíbe a circulação de bicicletas nos passeios (com exceção a crianças até aos dez anos de idade)”.
O ALMADENSE pediu esclarecimentos à CMA sobre o assunto, que não respondeu às questões colocadas. No entanto, em resposta ao requerimento apresentado pelo PAN, a autarquia alega que “nos locais em apreço será colocada sinalização adequada, nomeadamente o sinal de obrigação “Pista obrigatória para peões e velocípedes”, acrescentando que a colocação do sinal vertical “prevalece sobre o disposto” no artigo referente às bermas e passeios.
A CMA justifica ainda a opção “em virtude da necessidade de manter a circulação em ambos os sentidos, bem como a largura disponível para a via e passeios” no percurso em causa. Indicando que os materiais utilizados “são compatíveis com uma alteração futura da circulação no local”, a autarquia admite poder futuramente considerar “benéfico atuar de outra forma”.
https://almadense.sapo.pt/mobilidade/almada-ha-cada-vez-mais-adeptos-da-bicicleta-mas-ciclovias-continuam-esquecidas/