Só em 2022, a organização sem fins lucrativos recolheu 14 toneladas de lixo em Portugal, graças ao empenho de mais de mil voluntários. No concelho de Almada, reúnem-se três vezes por mês para “mostrar que é divertido apanhar lixo e ajudar o Planeta”.
“Não tento mover um pedregulho enorme do sistema. Não estou a salvar o mundo, mas cada beata que eu recolho não vai parar ao mar. Um animal inocente não a vai comer e acabar por morrer”. Esta é uma das razões que levou Diana Tavares a juntar-se à Planet Caretakers, uma organização sem fins lucrativos que tem como objetivo promover a recolha do lixo na área urbana, nas praias e florestas e sensibilizar os cidadãos para um comportamento mais responsável com o lixo, de forma a dar valor à reutilização do lixo que todos os dias é descartado.
Este domingo, 29 de janeiro, Diana liderou uma equipa de recolha de beatas em Almada, que iniciou o percurso na Praça MFA e desceu até Cacilhas. Depois de colocar as luvas e o bidão às costas, cada voluntário pega no seu copo e pauzinho para começar uma tarefa feita quase sempre de cócoras. Debruçados, os participantes, apanham todas as beatas que encontram pelo chão e com a ajuda do pauzinho retiram aquelas que ficam presas na calçada portuguesa. À medida que enchem os copos de beatas, depositam-nos nos bidões cedidos pela empresa de cinzeiros sustentáveis Biataki.
Ao longo do percurso, os voluntários também sensibilizam os comerciantes locais para o problema das beatas no chão à porta dos seus estabelecimentos, muitas vezes por falta de cinzeiros no exterior. O caminho é feito de conversa e boa disposição. “É um voluntariado divertido”, uma vez que permite também conhecer pessoas. Quando termina, “sentimos que fizemos algo pelo planeta”, conta Diana Tavares ao ALMADENSE. Só no município de Almada, a organização ambiental impulsiona cerca de três recolhas de lixo por mês.
Para cumprir a sua missão, a Planet Caretakers também se associa a outras associações locais e organizações não-governamentais para fazerem ações em conjunto. A Trust Travel, a associação Novo Mundo ou a Sea Shepherd Portugal são algumas das parceiras. Só em 2022, a Planet Caretakers recolheu 14 toneladas de lixo da natureza, organizou 84 recolhas que reuniram 1170 voluntários amigos do ambiente em Portugal, superando todas as expectativas.
De Almada para o país
A organização ambiental nasceu pelas mãos da almadense Débora Sá em 2020, depois de uma viagem ao Brasil. Em período de pandemia, Débora não conseguiu regressar a Portugal e acabou por ficar seis meses do outro lado do Atlântico. Durante a estadia, e com a pandemia a agravar as condições de vida numa favela, a jovem almadense ajudou a reunir apoios para cerca de 100 famílias em quatro meses. Quando regressou a Portugal e com o ânimo de ter conseguido ajudar aquela comunidade no Brasil, pensou que em Almada também podia tentar reunir pessoas que se preocupam com o ambiente para recolher lixo e estar em contacto com a natureza.
Na primeira fase do projeto, ainda durante o período da pandemia, surgiram as equipas no concelho de Almada. Com o tempo, acabou por se alargar a vários concelhos do país através de amigos, conhecidos ou simplesmente cidadãos preocupados que contactaram a organização. Hoje, têm quatro equipas em Almada (Almada, Caparica, Trafaria e Fonte da Telha), 17 equipas em oito concelhos do país (Setúbal, Grândola, Oeiras, Cascais, Mafra, Vendas Novas, Tomar e Figueira da Foz) e ainda uma equipa internacional no Nepal.
No futuro, gostariam de transformar o lixo em arte e, para isso, esperam conseguir uma parceria com a autarquia ou uma empresa privada, de forma a conseguirem a cedência de um espaço onde possam guardar os materiais recolhidos e realizar feiras de lixo.
As feiras teriam como objetivo disponibilizar gratuitamente aos artistas locais lixo recolhido que possa ser reutilizado em futuras criações. Neste momento, qualquer artista pode contactar a organização e solicitar vários tipos de plástico, cordas e outros materiais recolhidos pelos voluntários. No próximo mês de junho, a Planet Caretakers já tem presença agendada para o Festival Jardim Sonoro, que se realiza em Lisboa, onde irá levar uma escultura feita com luzes e garrafas de plástico recolhidas pelos seus voluntários. A obra é da autoria de Nuno Sá, em colaboração com o 51 Studio, e visa sensibilizar o público para a questão ambiental.
Em breve, a organização vai também organizar workshops de sensibilização e formação destinados à comunidade. Para já, continua a cuidar do Planeta, “quando nós estamos aqui, em contacto com a natureza, conseguimos perceber que o aquecimento global está à nossa frente. Não é amanhã, é já!”, afirma a voluntária Inês Gomes de Sá, em tom de apelo ao voluntariado. Para ajudar a cuidar do ambiente, basta aparecer no local da recolha de lixo que a organização divulga nas redes sociais e, se possível, levar luvas e sacos. “Venham experimentar fazer uma recolha. Venham conhecer um bocadinho mais de perto o problema do lixo na vossa terra”, é o apelo deixado pela líder da equipa de Almada da Planet Caretakeres.
Fotografia: Andreia Gonçalves
https://almadense.sapo.pt/cidade/almada-promove-a-descoberta-do-patrimonio-ambiental-do-concelho/