Núcleo de Almada conta com um “centro de operações” localizado no Feijó, mas espera poder conseguir um espaço maior com a ajuda de entidades e empresas locais.
A pandemia de Covid-19 tem levado a um aumento dos pedidos de apoio alimentar à Refood Almada, cuja lista de beneficiários passou, nos últimos meses, de 48 para 60 famílias (total de 161 pessoas). “Devido à pandemia, nota-se que houve uma procura muito maior por famílias interessadas em inscrever-se na Refood”, admite Amanda Rafacho, gestora de comunicação da organização, em declarações ao ALMADENSE.
Pessoas em situação de desemprego, imigrantes ou em condições precárias de habitação são as que mais têm recorrido à ajuda ao núcleo da Refood em Almada, que só lamenta não ter capacidade para alargar ainda mais o raio de ação: “uma vez que a nossa capacidade de auxílio depende das fontes de alimentos e do espaço de armazenamento que temos, o crescimento da nossa ajuda está bastante condicionado”, refere a responsável.
Este tem sido um dos maiores desafios enfrentado pela organização que conta com um “centro de operações” a funcionar desde 2018 no Feijó, num local cedido pela Câmara Municipal de Almada (CMA). É nesse centro os alimentos recolhidos são armazenados e distribuídos. Ao todo, 150 voluntários distribuem bens alimentares excedentários a famílias carenciadas de todo o concelho, com principalmente impacto no Laranjeiro e Feijó.
A cada voluntário é dado um turno ou rota, de acordo com a sua disponibilidade. São eles os responsáveis pela recolha e armazenamento dos alimentos junto dos parceiros (restaurantes, supermercados ou pastelarias). Os mesmos preparam e distribuem os bens alimentares aos beneficiários da organização, previamente entrevistados e inscritos.
Impacto da pandemia
Foi este equilíbrio entre parceiros, voluntários e beneficiários que o confinamento motivado pela pandemia pôs em causa. O primeiro desafio foi o encerramento de grande parte das fontes de alimentos. Além disso, o número de voluntários disponíveis para as diferentes fases do processo tornou-se menor, seja por pertencerem a um grupo de risco, seja por serem estudantes deslocados. Por último, assistiu-se a uma redução de donativos monetários, essenciais para a organização.
Mas a pandemia não foi suficiente para parar o núcleo Refood no concelho de Almada. Embora o “centro de operações” da organização tenha fechado entre 17 de março e 31 de maio, a distribuição de comida nunca parou.
“Na altura foram preparados cabazes mais completos e com alimentos menos perecíveis, que foram distribuídos aos nossos beneficiários. Durante as semanas seguintes, os nossos beneficiários passaram a ser apoiados CMA na Casa Amarela (Centro Cultural Juvenil do Laranjeiro), com o apoio de alguns voluntários do nosso núcleo e de outras associações”, conta Amanda Refacho, em nome da pasta da comunicação e do núcleo de gestores.
A sede só reabriu dois meses depois, após a elaboração do plano de contingência e a angariação de material de proteção. Depois do Feijó, a organização espera ter capacidade para se expandir ainda mais, nomeadamente para na zona da Trafaria e do Monte da Caparica. “Adquirir um espaço maior e estimular a criação de novos núcleos” são alguns dos objetivos, aponta a responsável.
Combater o desperdício alimentar
Além do apoio às famílias, o trabalho desenvolvido pelos núcleos da Refood em Portugal (60 em todo o país), contribui também para combater o desperdício alimentar. De resto, a consciencialização sobre as perdas e desperdício alimentar tem aumentado, acredita a responsável.
Em Portugal estima-se que um milhão de toneladas termine no lixo todos os anos. O aproveitamento dos excedentes alimentares, ou reaproveitamento, como o nome da organização sugere, move cada vez mais pessoas.
Daí a importância do debate, agendado para o próximo dia 15 de outubro, na Assembleia da República, de um projeto de lei proposto pelo partido Pessoas-Animais-Natureza (PAN), que visa “aprovar um regime jurídico aplicável à doação de géneros alimentares para fins de solidariedade social e medidas tendentes ao combate ao desperdício alimentar”, que seria benéfico para entidades como a Refood, refere Amanda Rafacho. Também o partido “Os Verdes” entregou um outro projeto de lei que pretende obter um inquérito nacional sobre o desperdício alimentar, já que não existem dados fiáveis.
Por fim, a responsável deixa um apelo: “gostaríamos de convidar todos a participarem neste projeto. Somos uma associação sem fins lucrativos e alguns apoios básicos podem ajudar imenso a ultrapassar dificuldades na aquisição de suprimentos, como é o caso de caixas descartáveis para colocar os alimentos, meios de proteção individual, como luvas, toucas, álcool, e apoio na manutenção da nossa viatura e na aquisição do combustível para a mesma”.
Texto: David Silva
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