Inês de Medeiros, presidente da Câmara Municipal de Almada
Após 40 anos de abandono, o Forte da Trafaria é exemplo da transformação que queremos ver neste concelho. É exemplo da força que Almada tem e do que Almada Pode.
A 16 de março de 1974 o Regimento de Infantaria nº5 seguiu das Caldas da Rainha até Lisboa numa tentativa de derrubar a ditadura. O Golpe falhou, e cerca de 200 militares foram presos. Destes, os oficiais responsáveis foram encarcerados no Forte da Trafaria, na altura prisão militar utilizada pelo regime do Estado Novo para prender alguns dos seus opositores nas Forças Armadas.
No passado dia 7 de setembro de 2020 a Câmara Municipal de Almada aprovou a cedência do uso de parte do Forte da Trafaria à Universidade Nova de Lisboa, para que lá se construa o novo Instituto de Artes e Tecnologia (IAT). No edifício das celas, que continuará sob responsabilidade da Câmara, construiremos um espaço de memória sob o tema Liberdade, Justiça, Resistência e Utopia.
Entre estas datas, e desde o último uso do Forte, em 1981, volveram-se 40 anos de abandono, em que as instalações militares construídas em 1683, e que tomaram parte da história recente da luta pela liberdade no nosso país, se degradaram, perdendo-se irremediavelmente as marcas dos resistentes.
Por ação deste Executivo Municipal, e da Universidade Nova de Lisboa, esse abandono acabou. Com ele, acaba também um capítulo infeliz da história da Trafaria, e de todo o nosso concelho.
O IAT será uma unidade dedicada à educação, investigação e criação artística e tecnológica, em plena integração com o tecido urbano da Trafaria. Nele, o ensino e a criação artística aliar-se-ão aos avanços tecnológicos para promover a justiça social, sustentabilidade ambiental, e desenvolvimento económico. Com um investimento de mais de 7 milhões de euros por parte da Universidade Nova de Lisboa, e a integração numa rede internacional com parceiros em todo o mundo, esta nova unidade de ensino superior fará mais do que recuperar património abandonado. Será uma fonte de desenvolvimento local de vanguarda, para a criação de uma oferta formativa de referência nacional e internacional. Preservando a identidade da vila da Trafaria e da sua história, é uma aposta num futuro de conhecimento, empreendedorismo, cultura e solidariedade. É uma aposta num território tantas vezes esquecido, de potencial ignorado, que é muito mais que uma vista para Lisboa.
O projeto que agora se lança é para todos os jovens almadenses, portugueses, europeus, ou de qualquer parte do mundo. É para todos os Trafarienses, velhos pescadores e jovens estudantes, artistas e empreendedores. É para todos aqueles que veem na Trafaria o potencial que ela tem. Para todos os que veem em Almada um município de conhecimento, cultura, tecnologia, e desenvolvimento económico. É um exemplo do que se pode fazer quando se olha com confiança e coragem para o futuro.
O projeto municipal para o edifício das celas concilia o necessário exercício de memória com a promoção da vivência sempre renovada dos grandes valores da “Liberdade, Justiça, Resistência e Utopia”, em homenagem aos que lutaram e resistiram. No final de uma década em que o populismo e a extrema-direita não pararam de ganhar força, importa relembrar aqueles que deram tudo de si pela Democracia. Para os honrar, para os conhecer, mas acima de tudo para com eles aprendermos a preparar as batalhas que agora são nossas. No concelho que acolheu a primeira reunião da Comissão Coordenadora do MFA, assumimo-nos como orgulhosamente democratas, orgulhosamente livres, orgulhosamente diferentes.
Após 40 anos de abandono, o Forte da Trafaria é exemplo da transformação que queremos ver neste concelho. É exemplo da força que Almada tem e do que Almada Pode. Terra viva e vibrante, criativa, emocional e solidária. Território de Muitos.