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De Almada a Lisboa: Transportes, clima e tempo

Diana Tavares, jornalista e mestre em Comunicação de Ciência                                                                                                                                                                               

Sabemos que um número relevante dos carros que circula em Lisboa vem das periferias, incluindo Almada, conduzidos por pessoas que escolhem o carro em detrimento dos transportes para irem e voltarem dos seus empregos.

 

Como muitos outros, vivo em Almada mas o meu local de trabalho é em Lisboa. Até julho de 2022, quando fui tomar a terceira dose da vacina contra a covid-19, evitei retomar o uso dos transportes públicos. Priorizei o teletrabalho e levei o carro para Lisboa quando precisei de ir aos escritórios, em média uma vez por semana. Entretanto, as notícias de quão maus e confusos os novos autocarros começaram a surgir. 

Sou perfeitamente consciente de que estamos a viver tempos em que o mais responsável, para o nosso ambiente e para o nosso dinheiro, é deixar o carro estacionado o máximo de tempo possível. Nem o planeta nem a nossa carteira aguentam o uso frequente do mesmo. Mas e o nosso tempo? Podem os deveres do dia a dia, especialmente quando olhamos para as mulheres e as famílias com filhos, aguentar o tempo dos transportes? 

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Antes de tomar a decisão, fiz a experiência. Vamos ver quanto tempo demoro, de autocarro, de minha casa até ao trabalho. Para chegar ao destino, tenho várias opções, mas a mais rápida são dois autocarros. Um de Almada, outro de Lisboa. 

Demorei cerca de cinco minutos a chegar à paragem a pé, na portagem da ponte 25 de Abril. Aí encontrei o primeiro problema. Os autocarros até têm o horário fixo, mas quando chegamos às estradas do centro sul e da ponte, esse tempo depende de vários fatores. Alguém bateu na rotunda? Alguém usou a linha do autocarro para andar mais depressa e entupiu os percursos? 

Eventualmente, o autocarro apareceu e passámos a ponte, chegando a Sete Rios, onde vários números param desde as obras na Praça de Espanha. E o autocarro para a zona do Parque das Nações? Chega a tempo? Esperei cerca de seis minutos até ao autocarro chegar, com uma fila considerável. 

 

Quando cheguei ao escritório, parei o cronómetro. Tinha demorado duas horas e cinco minutos de minha casa até ao meu local de trabalho. 

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Mesmo assim, não consegui saber o momento exato da chegada do autocarro. Tudo agora depende do trânsito nas estradas, nos passadiços, mas também de quantas paragens serão necessárias. Quando cheguei ao escritório, parei o cronómetro. Tinha demorado duas horas e cinco minutos de minha casa até à minha sala de trabalho. 

Desde o primeiro ano de faculdade que estudo, me divirto e trabalho em Lisboa. Até à pandemia, nunca questionei muito os transportes. Eram horas usadas para ler livros, ouvir podcasts, ver vídeos no telemóvel. Nos tempos de estudante, saía às 6h15 para chegar às 8h. Sair, esperar pelo metro, metro, esperar pelo comboio, comboio e ir a pé 10 minutos em linha reta. 

No trabalho, dependendo do local, todos os meios foram usados. Mas uma coisa era sempre comum e garantida. Entre um transporte e outro, pelo menos 10 minutos de espera seriam necessários, quer pelas multidões que enchiam os espaços, quer pelos tempos de espera entre uns e outros, fora das horas de ponta. 

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Mas depois a pandemia chegou e com ela os confinamentos. De repente, muitos de nós, entre aqueles que podiam, descobriram com o teletrabalho que podiam ganhar mais horas no dia para fazer outras coisas e não passar cerca de três a cinco horas por dia a andar de um lado para o outro, por exemplo, em caso de chuva ou frio. Eu, em média, ganhei três. A hora e meia para lá, a hora e meia para cá. 

Depois, para evitar encontrar-me no caminho de outras pessoas que podiam estar infetadas, comecei a usar o carro para atravessar Lisboa e descobri que se tudo corresse bem e evitasse as horas de ponta, podia demorar 45 minutos para lá, cerca de uma hora para cá. 

A isto acrescentemos o facto de ser uma mulher que ainda não está casada e não tem filhos. Não tem de se preocupar em colocar crianças a horas à porta de escolas, ou ir buscá-las já com a fadiga do trabalho nos ombros, ou levar e buscar crianças de aulas desportivas, de explicações ou psicólogos. Tenho, contudo, aulas marcadas num ginásio, um ou outro recado no supermercado, que fecha às 8h.  

Há duas previsões que os estudos indicam. A população humana do planeta cada vez mais viverá em cidades e para combater as alterações climáticas as políticas públicas a nível local vão ser cruciais. Os transportes públicos podem contribuir para uma redução até 45% dos poluentes que vêm dos combustíveis. 

Ao mesmo tempo, sabemos que um número relevante dos carros que circulam em Lisboa durante a semana vêm das periferias, incluindo Almada, conduzidos por pessoas que escolhem o carro em detrimento dos transportes para irem e voltarem dos seus empregos. 

Projetos piloto para levar as crianças à escola e um melhor uso de ciclovias são passos importantes, mas vai ser impossível combater os números acerca das emissões e da poluição sonora sem considerar uma estratégia coordenada com as cidades à volta. E quando vejo o trânsito na ponte 25 de Abril, às 8h e 9h da manhã pergunto-me se é isso que está a acontecer. 

 

O que tem feito Almada no combate às alterações climáticas e pela segurança cicloviária?

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