Subscritores entendem que o alargamento da estrada que liga Almada à Costa da Caparica não vai resolver o congestionamento, defendendo que o investimento público deveria ser canalizado para a extensão do Metro e construção de mais vias cicláveis.
Um grupo de munícipes lançou uma petição contra o alargamento do IC20 por considerar que aquela intervenção contraria a estratégia climática nacional, além de não resolver o problema de congestionamento que diariamente se vive naquela via.
O anúncio do alargamento para quatro vias por sentido foi feito esta semana pela concessionária Baixo Tejo, invocando uma obrigação contratual, que indica que quando as vias atingem um determinado limite de fluxo de tráfego têm que ser alargadas. A obra prevista conta com uma extensão de 3,9 quilómetros e tem início marcado já para o princípio de outubro.
No documento, os subscritores chamam a atenção para o facto de esta obra resultar “de um contrato caduco, que deveria já ter sido renegociado pelo Estado, de modo a ir ao encontro daquilo que são os objetivos estabelecidos a nível ambiental”. Consideram, por isso, que esta intervenção vai “contra a estratégia climática nacional, que vincula o país a reduzir as emissões de gases com efeito de estufa”.
Para além disso, argumentam, “a solução apresentada não irá resolver o problema de congestionamento do IC20 em direção a Lisboa ou vice-versa”, visto que “a capacidade deste troço é determinada pela capacidade da Ponte 25 de Abril”, que obriga ao afunilamento causador de engarrafamentos.
A petição tem como destinatários o Ministro das Infraestruturas, João Galamba, e o Ministro do Ambiente e da Ação Climática, Duarte Cordeiro, bem como autoridades competentes na área da mobilidade urbana e Desenvolvimento Regional.
A estas autoridades, os moradores lembram ainda que “há já várias décadas que estudos demonstram que aumentar o número de vias fará com que o volume de carros aumente, não solucionando a questão do congestionamento”, alertando que a maior oferta causará ainda maior procura deste acesso, num fenómeno denominado de “procura induzida”.
Por esse motivo, alargar a capacidade rodoviária é, além de “uma medida obsoleta num contexto de emergência climática”, também “inútil, já que os principais constrangimentos resultam das zonas onde a capacidade rodoviária afunila”.
“Contratos devem ser revistos à luz dos objetivos de neutralidade carbónica”
Investigadora na área da energia e alterações climáticas e residente em Almada, Sofia Simões subscreveu o documento por considerar “completamente incoerente alargar o IC20 ao mesmo tempo que se quer atingir a neutralidade carbónica”.
“Temos um compromisso assumido como país e como município no sentido da descarbonização, o que inclui tornar a utilização do carro mais difícil e fomentar o transporte coletivo”, diz ao ALMADENSE.
Além disso, alerta que o carro elétrico também não vai solucionar o problema. “Mesmo que toda a frota fosse elétrica, não conseguimos atingir as metas de descarbonização”. Ao mesmo tempo, a produção de veículos elétricos “tem impacto ao nível da extração de recursos, que gera novos problemas ambientais e não resolve o problema do congestionamento de tráfego”, argumenta.
Não tem dúvidas, por isso, que “este tipo de contratos”, que obriga as concessionárias a alargar as vias face ao aumento do tráfego “deve ser revisto à luz dos objetivos de neutralidade carbónica”.
O mesmo entende Sandra Fernandes, residente na Costa da Caparica, também subscritora da petição.“Há estudos que demonstram que criar mais faixas de rodagem vai levar mais pessoas a utilizar o carro, o chamado fenómeno da procura induzida”. Considera, por isso, que esta solução vai “gerar ainda mais poluição”, uma vez que não inclui qualquer pista ciclável ou faixa bus. Como mãe, considera a medida “irresponsável e egoísta”, uma vez que “não pensa no legado que estamos a deixar às gerações mais novas”.
Subscritores defendem prolongamento do Metro até à Costa e vias cicláveis
Face ao exposto, os subscritores apontam que “a solução para a melhoria da acessibilidade a pessoas, bens e serviços naquele território não deve passar por facilitar o acesso automóvel, mas sim por diversificar as formas de acesso à Costa da Caparica, melhorando as redes de transportes públicos, o acesso a pé e de bicicleta”, lê-se no documento.
Enquanto moradores e frequentadores do concelho de Almada, apontam as medidas que consideram prioritárias no território almadense, para as quais entendem que deveria ser canalizado o investimento público, nomeadamente o prolongamento da linha do Metro Transportes do Sul (MTS), desde a Universidade até à Costa da Caparica e à Trafaria, a renovação da frota dos barcos da Transtejo/Soflusa e melhoria do serviço fluvial, para além do alargamento da rede ciclável desde Almada até à Costa da Caparica.
Finalmente, os impulsionadores da petição entendem que “é fundamental envolver os cidadãos nos processos de decisão para que possam compreender os desafios em causa e dar pistas de como se podem mudar os padrões de mobilidade”, pedindo maior transparência nas decisões tomadas e um melhor uso do erário público” e deixam um alerta: “queremos uma Almada do futuro e não do passado, pelo que também exigimos que qualquer intervenção desta natureza implique a consulta dos/as habitantes, bem como das organizações especializadas em matéria ambiental”.
Com Mariana Vaz de Almeida
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