Há vários projetos na calha para o concelho de Almada que podem criar um impacto positivo, especialmente no eixo Monte da Caparica/Trafaria, que tem tido “uma procura extraordinária”. A revelação é de Ana Miguéis, arquiteta na Câmara Municipal de Almada e candidata à seção regional de Lisboa e Vale do Tejo da Ordem dos Arquitetos.
Em entrevista ao ALMADENSE, a profissional reflete sobre o estado da arquitetura e do urbanismo em Almada e fala sobre os principais objetivos da candidatura que integra, encabeçada pelo arquiteto Gonçalo Byrne. As eleições têm lugar esta sexta-feira, dia 26 de Junho.

Que desafios enfrenta hoje Almada do ponto de vista da organização do território?
Almada é um concelho curioso porque tem uma paisagem muito diversificada: há áreas urbanas muito consolidadas e há uma parte do território mais natural, até com características rurais. Nas áreas urbanas a intervenção é mais complicada, mas sempre foi encarada pela equipa que está à frente da Câmara como um grande desafio: como é que com base neste tecido conseguimos assumi-lo e valorizá-lo.
Alguns operadores lamentam a escassez de construção nova em Almada. Concorda com esta visão?
Na cidade de Almada é possível que isso seja verdade. Mas no concelho há uma série de grandes projetos que podem criar muito impacto. Impacto no bom sentido, porque não são massivos. São projetos cirúrgicos, muito interessantes e que podem projetar Almada de maneira diferente. Temos vários projetos de investidores privados para o eixo Monte da Caparica/Trafaria. Esta área tem tido uma procura extraordinária e para a Câmara Municipal é estratégica.
Qual o potencial dessa área?
A Câmara tem vontade de potenciar o polo à volta das universidades, para que isso seja também um fator de atração para outro tipo de indústrias que se possam implantar ali. Paralelamente a isso, a zona tem uma paisagem fabulosa: é quase um platô para Lisboa com vistas maravilhosas… daí que estejam a surgir também empreendimentos grandes, com uma base habitacional e turística.
Que outro tipo de projetos tem crescido em Almada nos últimos anos?
Nos últimos três anos assistimos a um êxodo muito grande de Lisboa. Uma zona que tem crescido muito é a Charneca de Caparica. É um tecido que está a mudar bastante em termos sociais e isso sentiu-se a todos os níveis: a pressão para o licenciamento nestas zonas, sobretudo de tipologias de moradias unifamiliares foi imensa, ao ponto desta pressão se sentir inclusivamente nas escolas.
E nas zonas mais urbanas?
Aí tem havido intervenções mais cirúrgicas, porque são zonas muito mais consolidadas e preenchidas. São áreas onde o tecido foi envelhecendo, mas que podem abrir oportunidades para o mercado da reabilitação, que é muito interessante para regenerar o tecido urbano.
À medida que os preços em Lisboa começaram a estar incomportáveis ou deixou de ser interessante para os promotores, Almada foi beneficiando dessa procura na área metropolitana.
As zonas mais antigas de Almada mantêm muito edificado devoluto. Como avalia esta situação?
A Câmara tem tido a preocupação de criar mecanismos que possam ser incentivos à reabilitação, como a delimitação das Áreas de Reabitação Urbanas. São estímulos: contam também com a disponibilidade de particulares. Mas é certo que por vezes há património que tem outras histórias associadas por trás, de partilhas, de processos complicados que se vão arrastando no tempo mais do que aquilo que seria expectável. Ainda assim, à medida que os preços em Lisboa começaram a estar incomportáveis ou deixou de ser interessante para os promotores, Almada foi beneficiando dessa procura na área metropolitana. Tivemos algum impulso sobretudo no eixo de Cacilhas e na zona da Costa de Caparica. São zonas que acabaram por ter muitas intervenções, a maioria destinada a Alojamento Local. No período anterior à covid Almada estava a ter muita procura de pessoas que estavam a fugir a Lisboa… vamos ver como evolui a situação agora.
O que nos pode adiantar sobre a situação dos grandes projetos previstos para o Cais do Ginjal e para a Cidade da Água?
O projeto da Cidade da Água não é conduzido pela Câmara, mas temos acompanhado de perto junto da administração da Baía do Tejo. Havia a expectativa de que fechassem o caderno de encargos já no verão passado. Tanto quanto sei, isso não aconteceu e a Câmara aguarda com expectativa os próximos passos. O Ginjal tem outra escala, mas o promotor estava muito empenhado em avançar o mais rapidamente possível. Penso que está a evoluir normalmente dentro dos trâmites que tem que passar.
São projetos que poderão ter um grande impacto na cidade, sobretudo do ponto de vista imobiliário.
Sim, principalmente a Cidade da Água. A concretizar-se, levará mais do que uma década a implementar-se, mas é um projeto que vai mudar completamente aquilo que é Almada. É uma nova cidade a implementar-se ali.
No que diz respeito à candidatura que integra para a Ordem dos Arquitetos, quais as expectativas?
As expectativas são elevadas, estamos muito confiantes. Trata-se de uma candidatura conjunta em todo o país associada à figura do arquiteto Gonçalo Byrne. Estamos muito motivados porque ele é uma figura de referência, não só no percurso profissional, mas também pelo grande humanismo e sentido de solidariedade que quis passar na mensagem para esta “nova” Ordem.
Queremos que a Ordem defenda a classe, no sentido de projetar o papel da arquitetura na sociedade e fazer perceber os vários aspetos em que é fundamental estar presente.
Que outros aspetos destaca na candidatura?
Um dos temas mais emblemáticos e que diferencia a candidatura é o foco na profissão: reconhecer que o arquiteto hoje em dia já não é o arquiteto do atelier que faz só projeto. Queremos que a Ordem defenda a classe, no sentido de projetar o papel da arquitetura na sociedade e fazer perceber os vários aspetos em que é fundamental estar presente. Por outro lado, o défice de participação na Ordem é muito alto, pelo que queremos abri-la a todos os arquitetos. Outro tema que queremos muito trabalhar é a questão dos estágios, que por vezes são muito pouco dignificantes quer para o estagiário como para a própria entidade que o acolhe. Queremos que a Ordem tenha um papel mais interventivo: que o estágio não sirva apenas para fazer currículo e que seja dignificado, não só no tipo de atividade que se promove aos estagiários, mas também na remuneração. É mais do que justo e necessário que ela exista.
De que forma poderá a pandemia de covid-19 afetar o panorama da arquitetura em Portugal?
Neste momento há uma série de variáveis que não controlamos. Sabemos que podemos vir a atravessar um período muito complicado em temos económicos. Por isso, é nossa convicção que é muito importante que a Ordem saia reforçada nesta eleição e tenha uma equipa muito capaz com capacidade de diálogo, também para fora do mundo dos arquitetos. Porque muitas vezes a arquitetura não tem o reconhecimento da sua utilidade, não é consensual. Achamos que é hora de reconhecer em pleno a utilidade do arquiteto. O nosso receio é que em tempos de crise a necessidade da arquitetura seja relegada para segundo plano. Por isso precisamos de ter uma Ordem muito forte, que tenha uma voz social e política.
https://www.almadense.pt/almadenses-ganham-menos-do-que-o-resto-do-pais-mas-pagam-mais-pelas-casas/
Sinto sinto que Almada tem potencialidades únicas para uma expansão da cidade de Lisboa. Nada que se compare com Amadora, Odivelas, Loures etc. Para mim foi a largura do leito do rio tejo que ditou a separação dos territórios. Era o que faltava o rio Sena que atravessa Paris fazer separação de territórios. Os almadenses devem estar orgulhosos e aconselho-os a serem mais participativos nos destinos do seu território. A arquiteta entrevistada pelo jornal Almadense, como funcionária do município, não pode dizer mais do que o que disse, mas deixou algumas pistas para todos aqueles que pretendam investir…