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Sérgio Lourosa Alves (Livre/BE): “Queremos uma Almada que seja verdadeiramente de esquerda”

AUTÁRQUICAS 2025

Encabeça a candidatura ‘Almada em Comum’, que junta pela primeira vez Livre e Bloco de Esquerda (BE). Entre as prioridades, Sérgio Lourosa Alves aponta as políticas de habitação e a mobilidade, com propostas que passam pela reabilitação de edifícios devolutos e investimento em transporte público. Em entrevista ao ALMADENSE, reforça a necessidade de diálogo, transparência e proximidade com os cidadãos, sublinhando que qualquer acordo pós-eleitoral terá de ser escrito e fiel às propostas da coligação.

 

É a primeira vez que o Livre e o Bloco de Esquerda concorrem juntos em Almada. O que motivou esta candidatura conjunta?

A candidatura surge porque tínhamos muitas ideias em comum para Almada. Daí o nome da coligação ser “Almada em Comum”. Achámos que era preciso uma aliança à esquerda, com o descontentamento que sentimos dos almadenses com as políticas que foram sendo feitas, ditas “de esquerda” mas que na verdade foram sempre um acordo ao centro entre o PS e o PSD. Esta é verdadeiramente uma coligação de esquerda, com objetivos e propostas comuns. Em segunda instância, queremos posicionar-nos contra o avanço da extrema-direita. Almada foi sempre um município que cresceu com políticas de esquerda, inclusivas e solidárias. Esta união serve justamente para mostrarmos que queremos uma Almada de todos e que seja verdadeiramente de esquerda.

Como foi decidida a ordem das listas? Porque é que é o Livre que encabeça?

Foi um acordo muito dialogado. Primeiro sentámo-nos à mesa e percebemos que tínhamos muitas coisas em comum a nível de programa. Depois tentámos ter uma postura de igualdade de oportunidades, com o Livre a encabeçar a Câmara Municipal e o Bloco a ficar com o cabeça de lista da Assembleia Municipal. Ao nível de freguesia, tentámos que o Livre ficasse com as localidades mais urbanas, onde existem mais votantes, enquanto as freguesias encostadas à costa, como a Sobreda, a Charneca, a Caparica, etc., foram encabeçadas pelo BE. Ambos os partidos estão em pé de igualdade, somos a única lista com 50% de mulheres e 50% de homens, porque acreditamos na paridade e na igualdade de género.

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Ainda assim, ao nível da autarquia, é o Livre a liderar a candidatura. O facto de esta não ser encabeçada pelo BE, que historicamente tem mais relevância em Almada, foi motivada pelos resultados menos positivos deste partido nas últimas legislativas?

Foi uma dinâmica ao nível distrital. Esta coligação não se fez só em Almada, e foi decidido que todas as coligações em Setúbal entre os dois tivessem esta premissa de ter o Livre a encabeçar a câmara, para que houvesse uma uniformização. Talvez os resultados tenham influenciado, mas vamos verdadeiramente coligados, tanto que nos cartazes nem sequer fazemos distinção entre os dois partidos. Estamos a trabalhar em conjunto, com transparência e seriedade. O BE tem mais know-how, há oito anos que tem vereação, e nós no Livre, que estamos a iniciar este percurso trazemos uma maior leveza e uma dinâmica diferente ao programa. Acho que vai ser benéfico para os dois lados.

No sistema de primárias do Livre, o Sérgio Lourosa Alves ficou em terceiro lugar, mas acabou por assumir a liderança da candidatura. Foi um início um pouco atribulado?

As primárias do Livre são abertas a todos os que queiram participar nelas. Neste caso, dois candidatos acabaram à minha frente, mas o primeiro acabou por desistir por motivos pessoais, e o segundo achou que não estava preparado para assumir um cargo autárquico. Por isso, a candidatura passou para a minha pessoa e fiquei muito feliz com isso. Aliás, já estava satisfeito por sentir que estava a fazer parte de um processo verdadeiramente democrático, em que se estava a votar nas ideias e não na pessoa A ou B.

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Sérgio Alves é também professor de História na Escola Secundária Romeu Correia. Foto: Maria João Morais / Almadense

Nas últimas autárquicas, o Livre não se apresentou a votos em Almada. O BE teve 6,8% e elegeu Joana Mortágua para um segundo mandato como vereadora. Acreditam que é possível manter essa representação? É esse o objetivo?

O objetivo, por mais utópico que seja, é ganhar, é nesse sentido que estamos a trabalhar. Em todo o caso, acredito que é bastante possível manter a representação, e gostava até que a Sandra Cunha, que é a número dois da lista, também fosse eleita vereadora. Seria um franco sinal positivo daquilo que nos moveu inicialmente, de um posicionamento e uma força política que faça oposição séria e comprometida com políticas de esquerda.

A minha candidatura é um compromisso com a própria cidade.

O Sérgio Lourosa Alves é professor e músico. O que é que motivou o salto para a política nesta fase?

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Como educador, a minha função social é ensinar os alunos a serem bons cidadãos, encorajá-los a que quando fizerem 18 anos vão votar e participem na política. Pessoalmente, fiz sempre parte das mesas de voto, era a minha forma de me sentir integrado na política. Mas nestas últimas legislativas senti-me muito incomodado e cheguei à conclusão que tinha de fazer alguma coisa. Já tinha assistido a alguns congressos do Livre, ia participando um pouco por fora e revia-me nas ideias, na forma de estar do partido e na pessoa do Rui Tavares que, como eu, também é historiador. Além disso, foi também uma necessidade que senti como “filho da terra”. Tenho quase 40 anos, nasci em Almada, estudei, trabalho e vivo aqui. A minha candidatura acaba por ser um compromisso com a própria cidade. Senti que nos últimos oito anos houve um afastamento muito grande entre os almadenses e a política, perdeu-se a proximidade, houve até uma certa postura de arrogância. O que quero é uma Almada em comunidade, que antes existia e que é importante que regresse.

Esse incómodo de que fala teve que ver com o crescimento do Chega?

Sim. Fiquei muito preocupado com o que se passou. Mas, por outro lado, nas últimas legislativas Almada foi o único concelho do distrito de Setúbal onde a extrema-direita não ficou nos dois primeiros lugares, e onde o Livre foi quarto. Senti que há esperança e que se algum partido pode ganhar alguma força e ter outra forma de fazer política, com seriedade e coerência, é o Livre. Foi por isso que me tornei militante e decidi concorrer a estas autárquicas.

Até hoje, os almadenses não tiveram conhecimento do acordo entre PS e PSD. Nunca houve transparência.

Que balanço é que a coligação Almada em Comum faz dos últimos dois mandatos do PS, com apoio do PSD?

Começo por responder a essa pergunta não como candidato, mas como almadense. Nunca percebi muito bem o acordo PS-PSD. Aliás, os almadenses até hoje não tiveram conhecimento desse acordo, nunca houve nada escrito, e essa falta de transparência é algo em que não me revejo. Há muita coisa que ficou por fazer nestes anos ao nível da habitação, das políticas públicas, da recolha do lixo, etc., coisas que são da competência da Câmara e em que o discurso foi sempre de que faltam recursos, de que há uma pressão urbanística demasiado grande… tudo bem, esses são os problemas. E as soluções? O que é que a Câmara está a fazer para solucionar essas questões? Houve incompetência por parte da autarquia. E por mais razões que possam existir, também existem formas de mitigar e fazer alguma coisa pelos problemas.

Considera esses dois temas, a habitação e a recolha do lixo, como os que mais problemas geram em Almada?

Sim. E também a questão da mobilidade. Por exemplo, quando a Carris Metropolitana começou a operar novas carreiras, não se ouviu os almadenses sobre onde se deveriam colocar as paragens, sobre as necessidades que essa nova rede ia ter. O mesmo com as paragens do metro, para nós é descabido que pessoas em cadeira de rodas não tenham acessos apropriados às paragens. Agora está a pensar-se muito na expansão da linha de metro até à Costa da Caparica e à Trafaria. Nós defendemos essa ideia, mas também há que pensar estas questões. Como também devemos pensar em começar já a fazer também estudos para a Charneca e a Sobreda, para que o metro venha a servir toda a população do concelho.

Como é que olham para alguns dos grandes projetos anunciados para o concelho na área da mobilidade, como o túnel Trafaria-Algés?

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Somos apologistas de que, antes de projetos megalómanos e que são projetados para daqui a muito tempo, os almadenses precisam de respostas mais imediatas. Por exemplo, o reforço da travessia fluvial entre a Trafaria e Algés. Temos muitos almadenses que trabalham na zona do Taguspark, muitos carros atravessam a ponte 25 de Abril em direção a Oeiras. Ia fortalecer o terminal da Trafaria, que está ao abandono, e quando o metro chegar até lá acaba por criar um interface de transportes naquela zona. Gostávamos também que esta fosse uma travessia verde, feita com barcos elétricos. Seria preciso investimento, mas é uma solução mais imediata do que um túnel ou uma terceira ponte.

Pressão [em relação à Fertagus] deve ser intermunicipal.

E quanto à Fertagus? Consideram necessário um reforço?

Sim. Aqui, apesar de ser uma empresa privada e ter uma concessão do Estado, cabe ao município fazer pressão. Neste caso, acho que seria profícuo se essa pressão fosse intermunicipal, porque a Fertagus não serve só Almada. Tenho quase a certeza de que se houvesse um esforço conjunto, veríamos resultados. Foi assim com o passe Navegante: os municípios sentaram-se à mesa com as entidades e chegou-se a um consenso. Agora, é necessário que se voltem a sentar para percebermos como resolver este problema. Sabemos que não se podem colocar mais carruagens por causa das limitações da própria ponte, mas devemos arranjar uma solução conjuntamente, com um diálogo intermunicipal. Voltando à questão que mencionei há pouco, senti que os últimos anos foram marcados por alguma arrogância, com Almada colocada num pedestal e muito centrada no seu umbigo. Os almadenses nunca foram assim, sempre houve uma proximidade e mais diálogo do que existe hoje em dia. É preciso diálogo, porque é na união de esforços e de ideias que se pode fazer uma Almada melhor.

Apoiam o regresso do Transpraia à Costa da Caparica?

Sim. Aliás, a Joana Sales, a nossa representante na Junta de Freguesia da Costa, tem estado muito perto desta concessão. Vamos ter uma reunião com o proprietário do Transpraia para mostrar o nosso apoio, e fomos também a reuniões com os pescadores da Costa, para perceber algumas vicissitudes que possam existir. É um marco histórico, e enquanto historiador acho que não devemos deixar a história morrer, devemos preservá-la e adaptá-la aos tempos atuais.

É imperativa a reabilitação dos edifícios devolutos que existem em Almada.

O tema da habitação é transversal a todos os partidos e está no topo das preocupações dos almadenses. Sabemos que o Livre e o BE defendem o combate à especulação imobiliária e ao turismo massificado, mas que soluções concretas propõem para combater a pressão sobre o mercado habitacional?

Já fizemos um levantamento e temos cerca de nove mil edifícios devolutos em Almada. A reabilitação desses edifícios é imperativa, é uma das nossas primeiras medidas. Os que são da Câmara têm que ser canalizados para situações de maior urgência para habitação, por exemplo, as populações de Penajóia. Quanto aos outros, tem que se ver quais estão embargados e quais não estão e chamar as pessoas ao diálogo, ajudar na concessão de obras, editais, mão-de-obra, de forma a que haja uma via mais rápida e mais célere para que as coisas aconteçam. Sobre a questão do turismo, é preciso haver um plano, que não há. Estabelecer quotas, por exemplo, que garantam que o turismo local não retira casas para as pessoas viverem. Temos também propostas de alojamento inter-geracional, para permitir que jovens que vêm estudar para Almada fiquem em casa de idosos que estão sozinhos. Pode constituir um serviço social importante para combater a solidão na velhice e o problema dos jovens que não conseguem arranjar casa em Almada. Vemos exemplos disso noutros municípios e é bonito ver as relações que depois se criam entre gerações.

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Coligação “Almada em Comum” junta Livre e Bloco de Esquerda. Foto: Maria João Morais / Almadense

E quanto aos apoios à habitação? Consideram que os atuais são suficientes?

Não são suficientes. Queremos muito reforçar os apoios que já existem ao arrendamento. Era uma das coisas que queríamos neste último orçamento, que não foi aprovado. Em parte não votámos favoravelmente porque o valor que queríamos para esse arrendamento acessível não constava do documento. Sentimos que, neste último mandato, as propostas que tínhamos para a habitação eram viáveis, era possível executá-las, mas não foram tidas em consideração. Nem sequer foram discutidas e quando falo de arrogância é também a este nível, de não haver diálogo. Espero que, independentemente dos resultados, que todas as forças políticas saiam do seu pedestal, porque esses impasses fazem com que as coisas não avancem. Esta questão da habitação é um problema nacional, sem dúvida, mas em Almada muitas coisas podiam ter sido resolvidas se tivesse havido mais diálogo e se algumas forças políticas (o PS mas não só), não se tivessem colocado à parte.

Como é que olham para o crescimento de bairros precários como Penajóia e que soluções propõem?

Olhamos para esta questão, primeiramente, ao nível das pessoas. A dignidade humana é imperativa. Juntamente com o nosso cabeça-de-lista da Trafaria, que conhece muito bem as vicissitudes do Penajóia e do Segundo Torrão, temos tido algumas intervenções no local, para conhecer as pessoas e perceber o que se passa. O que temos visto é que há lá pessoas que trabalham, têm rendimentos e contribuem para a sociedade, só não têm dinheiro para ter uma casa. É preciso fazer um levantamento urgente destas pessoas, ninguém vive em barracas porque quer. Aquelas pessoas estão ali, muitas delas com dois trabalhos, porque não conseguem pagar uma casa. Querem sair dali, estão a fazer um esforço, e temos de tentar realojá-las.

A Câmara diz sempre que não tem habitações disponíveis…

Temos de conseguir reabilitar as casas que são da Câmara e estão devolutas para estas situações de urgência. Tem de haver um trabalho social e de ação rápida para resolver o problema destas pessoas.

Mas há também milhares de outras pessoas em Almada em fila de espera para obtenção de habitação pública. Quem é que teria prioridade?

O problema tem que ser resolvido de forma paulatina. Tem de haver uma categorização de urgência conforme a situação. No caso daqueles bairros, corremos o risco de que se transformem num negócio, já sabemos que estão a ser arrendadas casas ali. É uma crise social e que pode levantar muitos outros problemas.

E parte dessa solução não deve também passar por impedir a construção de novas habitações? Não se corre o risco de que o ritmo de crescimento seja maior do que a rapidez de resposta às situações atuais?

Não nos podemos esquecer que aquilo é território do IHRU. Há coisas que um Executivo camarário pode tentar fazer, mas outras que não lhe são permitidas porque não há espaço de manobra. Tem é de haver diálogo e uma pressão muito maior que, mais uma vez, não tem existido. Por outro lado, tenho ouvido da parte de outros candidatos que “temos de demolir”. A pergunta que faço é: “e as pessoas”? Primeiro há que entrar nestes bairros, perceber como é que podemos ajudar estas pessoas a sair dali, arranjar respostas mais rápidas dentro das possibilidades da autarquia, e em conjunto com o IHRU e os vários atores sociais começar a fazer demolições gradualmente, sem nunca pôr em causa os direitos humanos e a dignidade de vida daquelas pessoas. 

Não assinamos cheques em branco. Não aceitaremos nenhum acordo que não seja escrito.

Olhando para um cenário pós-eleitoral, este ano há alguma incerteza com a possibilidade de novas forças políticas entrarem no executivo camarário. Caso a aritmética permita, o Livre estaria disponível para integrar um executivo liderado pelo PS?

Em primeiro lugar, temos que deixar claro que não assinamos cheques em branco. Não aceitaremos nenhum acordo que não seja escrito, com o conhecimento de todos, porque quem vai votar em nós acredita no nosso programa. Terá de haver um compromisso, que integre as propostas da coligação Almada em Comum. Não quero defraudar as pessoas que votarem em nós. Dito isto, o Livre é um partido de diálogo e de convergência, foi-o desde o início. Acreditamos em acordos pós-eleitorais, desde que as nossas bandeiras fiquem assentes, com pelouros e funções bem definidas e que dê espaço de manobra para pormos as nossas ideias em prática.

E se esse acordo incluir o PSD?

Aí seria diferente. Como já referi, é muito estranha esta limpeza política em que o PSD fez parte de uma coligação durante quase oito anos e agora muda de candidato e afasta-se daquilo que foi a gestão desse período. É de uma falta de transparência e de sinceridade política muito grande, acho que qualquer almadense que esteja atento consegue ver isso.

Com Maria João Morais

 

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