Sandra Fernandes, residente na Costa da Caparica e membro do movimento Almada Para as Pessoas
Seria importante que o município de Almada avançasse com a implementação da rede de ciclovias preconizadas, promovendo a utilização da bicicleta como meio de transporte, bem como a segurança rodoviária.
Na semana em que no Egito se debatem as alterações climáticas, bem como as medidas que será necessário adotar a nível internacional para conter o aquecimento global, no quadro da COP 27, torna-se premente refletir sobre estas preocupações e lançar a questão sobre o que tem feito a Câmara de Almada no combate às alterações climáticas e no garante da segurança cicloviária no concelho.
Sabemos que a promoção de modos mais ativos de deslocação assume um papel fundamental no cumprimento dos objetivos do Acordo de Paris sobre Alterações Climáticas. Mas, quando a segurança das pessoas não está garantida, como podemos considerar que está a ser promovida uma estratégia que se coadune com esse propósito?
Segundo o relatório de sinistralidade rodoviária relativo ao ano de 2021, compilado pela Autoridade Nacional para Segurança Rodoviária (ANSR), os acidentes com velocípedes como veículos intervenientes aumentaram 20,4% num ano, para um total de 2.756 incidentes em 2021 em todo o país.
Já havia sido salientado pela ANSR que, segundo a estatística 2010-2015, “em comparação com os automóveis ligeiros, a probabilidade dos condutores de velocípedes sofrerem uma lesão grave ou fatal é praticamente quatro vezes maior. A vulnerabilidade destes utentes, no entanto, não deve ser vista como um obstáculo à sua livre circulação, mas sim como um fator que exige a criação e desenvolvimento de medidas visando a sua segurança. Por outras palavras, há que promover o uso da bicicleta salvaguardando a segurança rodoviária. A nível europeu, Portugal faz parte dos países onde a utilização deste modo de transporte ainda é baixa – apenas 1% da população usa a bicicleta em deslocações para o local de trabalho e 4,5% para passear (INE, censos de 2011).”
Criada há oito anos, uma petição que pede uma ciclovia Cacilhas – Costa de Caparica – Fonte da Telha, , que conta com 638 assinaturas, já mencionava a questão da insegurança. “É perigoso tentar ir de bicicleta para as praias do concelho. As estradas nacionais são estreitas e, muitas vezes, sem bermas. Os automobilistas, no stress constante do dia a dia, não respeitam as distâncias de segurança para os ciclistas.”
O Plano Almada Ciclável de 2005, que previa a implantação progressiva de uma rede de 223 km de percursos cicláveis, praticamente não foi implementado desde então, estando concluído apenas a 8%.
Na agenda municipal de Novembro 2021, a Câmara Municipal de Almada assinalava a construção de 8 km de ciclovias e a reabilitação de 3,9 quilómetros.
A ciclovia entre Cacilhas e o Parque da Paz necessita urgentemente de ser reabilitada, tal como estava previsto na proposta vencedora do Orçamento Participativo 2021.
Somado ao total de quilómetros de ciclovia existente, perfaz um total de 17,1 quilómetros destas vias no município, o que fica muito aquém do objetivo de 223 quilómetros estabelecido em 2005, que nenhum dos executivos parece ser capaz de atingir. Pode mesmo ler-se das palavras de Gabriel Oliveira, diretor municipal de Obras, Mobilidade e Urbanismo: “Daqui a 8 ou 10 anos, as pessoas vão começar a ver uma cidade toda unida pelas pistas de bicicleta”. Contudo, parece não haver uma estratégia clara nem planos concretos para desenrolar essa necessária rede de ciclovias.
É de notar que a ciclovia que ligaria a estação fluvial de Cacilhas ao espaço de lazer Parque da Paz, atualmente nem sequer é uma ciclovia contínua e segura que possa ser usada por uma família com crianças. A sua descontinuidade entre o Hospital Particular de Almada e a Estrada do Rego obriga os utilizadores a conduzirem na estrada, independentemente da sua experiência e idade. A ciclovia da Estrada do Rego, por sua vez, está frequentemente ocupada por automóveis devido à inexistência de barreiras ou pinos, o que é também um contrassenso da rede cicloviária de Almada. Esta ciclovia necessita urgentemente de ser reabilitada, tal como estava previsto na proposta vencedora do Orçamento Participativo 2021.
Seria importante que os técnicos do Município de Almada recebessem formação quanto ao estado da arte de concepção de vias cicláveis, para que não continuem a projetar vias ciclopedonais nos centros urbanos em que estas vias se tornarão pontos negros de conflitos entre peões e utilizadores de bicicleta, como é o caso da Ciclovia do Lazarim, que estava fora dos planos do Municipio, e cujos fundos foram aproveitados para a contrução de passeio pintados de vermelho enquadráveis na categoria de ciclovia. Esta “ciclovia” não previu no seu desenho a existência de postes e caixas de eletricidade, caixotes do lixo e rampas de acesso a garagens, anulando a utilidade desta via segregada, e contribuindo para aumentar os conflitos viários entre peões, bicicletas e automóveis.

Seria, por isso, importante que o município de Almada avançasse finalmente a bom passo com a implementação da rede de ciclovias preconizadas, promovendo a utilização da bicicleta como meio de transporte, bem como a segurança rodoviária, cumprindo a Estratégia Nacional de Mobilidade Ativa e Ciclável 2020 – 2030 (ENMAC), que se propõe a atingir as seguintes metas:
– Quota modal de viagens em bicicleta no território nacional de 7,5%;
– Quota modal de viagens em bicicleta nas cidades de 10%;
– Extensão total de ciclovias de 10 000 quilómetros;
– Redução da sinistralidade rodoviária de ciclistas em 50%.
Esta preocupação é sublinhada pelo movimento Almada para as Pessoas, que imagina uma cidade agradável, inclusiva e ecológica e que quer contribuir ativamente para a sua construção. É um movimento orgânico, de cariz comunitário e em constante evolução, que estará sempre disponível para ser consultado e envolvido pelos poderes públicos locais, bem como pelos meios de comunicação que tenham interesse em aprofundar este tema com os seus membros.
https://almadense.sapo.pt/mobilidade/almada-ha-cada-vez-mais-adeptos-da-bicicleta-mas-ciclovias-continuam-esquecidas/