Mudanças previstas para a nova rede de transporte rodoviário estão a gerar preocupação junto dos utentes, que temem perder as atuais ligações diretas ao Areeiro, em Lisboa. Câmara de Almada atribui decisão à autarquia lisboeta.
“Apanho o autocarro por volta das sete da manhã na Costa da Caparica e chego ao Areeiro 40 minutos depois. Para isso, já acordo às 6h da manhã, se tiver de apanhar outro transporte tenho de acordar meia hora mais cedo, ou seja, uma hora a mais por dia, porque acontece o mesmo no caminho de volta”, conta Eliana Assis ao ALMADENSE.
A preocupação surge no seguimento da divulgação, feita no site da Carris Metropolitana, de supressão das atuais carreiras com origem na Costa Caparica (161) e no centro de Almada (160) e com destino à Praça do Areeiro, em Lisboa. Como alternativa, a platataforma “Conversor de Linhas” aponta as linhas com destino a Sete Rios. A alteração terá início já a partir do próximo dia 1 de julho, com a entrada em funcionamento em Almada da nova operação de transporte público rodoviário.
“Esta alteração afeta-me totalmente. É o único meio de transporte que tenho para ir e vir diretamente do trabalho. Não sei quem vai beneficiar, porque todos os dias no autocarro as pessoas queixam-se disso, estão preocupadas”, comenta Eliana Assis, moradora na Costa da Caparica há vários anos.
Residente em Almada, Maria Isabel Marques partilha a preocupação. “É uma carreira importante, a única que muitas pessoas têm para se deslocarem para a Segurança Social, para a Gulbenkian, para o Campo Pequeno e muitos mais sítios em Lisboa. Agora temos de sair em Sete Rios porquê? É uma mudança que vai na direção oposta”, afirmou.
A possibilidade de alterar a rota ou passar a fazer vários transbordos para chegar ao destino também não agrada a muitos utentes. “Quando os passes únicos chegaram, a mudança foi positiva. Agora podemos utilizar todos os meios de transportes, mas isso significa que temos de andar sempre a fazer transbordo? Não acho certo”, afirmou Maria Isabel.
Também a Comissão de Utentes dos Transportes da Margem Sul se mostra preocupada com as alterações anunciadas. “Em termos de mobilidade para os almadenses, claro que isto traz perturbações. As carreiras não paravam só no Areeiro, deixavam pessoas na Avenida de Berna e no Campo Pequeno, por exemplo. Agora estes utentes são obrigados a fazer um transbordo em Sete Rios ou noutra localização, é inconveniente”, argumentou Marco Sargento, membro da Comissão.
Câmara de Almada atribui decisão à autarquia lisboeta
Contactada pelo ALMADENSE, a Câmara Municipal de Almada, atribuiu a decisão de acabar com a ligação ao Areeiro à autarquia lisboeta. “A responsabilidade da eliminação dos terminais no Areeiro é da Câmara Municipal de Lisboa, passando o terminal que estava no Areeiro para Sete Rios”, indicou José Pedro Ribeiro, vereador da Câmara de Almada com os pelouros de infraestruturas, obras municipais e administração urbanística, numa resposta enviada por escrito.
A Comissão de Utentes aponta na mesma direção: “A informação que temos é que a Câmara de Lisboa tenciona terminar com as paragens na transversal do Areeiro e que nos próximos meses vão ocorrer obras”, afirmou Marco Sargento. O ALMADENSE tentou obter mais esclarecimentos sobre os motivos na base das alterações junto da Câmara Municipal de Lisboa, mas não obteve resposta.
Por sua vez, José Pedro Ribeiro sublinhou ainda que “a operação da Carris Metropolitana não é desenvolvida diretamente pela Câmara de Almada, mas sim pela Transportes Metropolitana de Lisboa (TML)”, esperando que a partir de 1 de julho o serviço funcione “melhor que tem vindo a acontecer nos municípios do lote 4”.
Quanto às novas linhas, o vereador sublinhou que o município “passará a ser servido por 92 linhas, das quais 26 são novas”, destacando as “novas e importantes ligações noturnas entre Almada e Lisboa (3708 Costa da Caparica – Cais do Sodré) e 3706 (Charneca da Caparica via Feijó – Sete Rios), a nova ligação à interface de transportes de Algés e a nova ligação rápida ao concelho do Barreiro, com destino ao campus da FCT-NOVA”.
José Pedro Ribeiro também referiu que o Bus Saúde “passará a realizar 81 circulações diárias, entre a Cova da Piedade e o Hospital Garcia de Orta, mantendo o percurso, mas com um novo número, 3026” e que o mesmo irá acontecer com o Flexibus “que terá 31 circulações diárias pela zona antiga de Almada e que passará a ter o número 3005”.
Contactada pelo ALMADENSE, fonte da TST, empresa que irá continuar a assegurar a operação nos concelhos de Almada, Seixal e Sesimbra sob a marca Carris Metropolitana, indicou que as questões sobre os percursos devem ser direcionadas “para a Autoridade (TML), entidade que a poderá esclarecer sobre o desenho da rede”. No entanto, a Transportes Metropolitanos de Lisboa (TML) não respondeu às questões enviadas.
Alterações nas linhas 103, 123 e 133 causam apreensão
Além das linhas para o Areeiro, também as carreira com destino no Almada Forum (103), Lazarim (133) e uma outra para a Charneca da Caparica (123) continuam sem substituição no site da Carris Metropolitana, o que também está a gerar inquietação junto de utentes.
“A linha 123 aparece como adaptada, mas tanto a 103 como a 133 desapareceram do registo”, constata Marco Sargento. “Estamos à espera para ver as linhas finais, horários e percursos, porque é possível que as rotas sejam ocupadas por novas carreiras”, disse o responsável. Para os utentes, a carreira do Almada Forum é de grande importância porque há muitos “trabalhadores que dependem dela para voltarem para casa, pessoas que saem do trabalho depois da meia-noite”, apontou.
Apesar de as decisões estarem tomadas, a Comissão de Utentes não pensa cruzar os braços. “Continuamos sem saber por que razão é que não fomos consultados em relação à Carris Metropolitana. No entanto, não vamos descansar enquanto isto não estiver esclarecido”, garante.
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