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Na escola da Fonte Santa, em Almada, o futuro da educação é hoje

Catarina Cerqueira, investigadora na área das políticas educativas.                                                                                                  

Lutar contra o encerramento da escola da Fonte Santa, em Almada, é lutar por um futuro para a educação que não seja ditado pelo pensamento economicista, mas sim pela vontade democrática das comunidades educativas. É lutar por uma escola pública que garanta que todos podem ter acesso a uma educação feliz, emancipadora e em comunidade.

 

Somos constantemente invadidos pela ideia de “escola do futuro”. O mais comum é  visualizarmos mentalmente escolas altamente tecnológicas, com inteligência artificial e óculos de realidade virtual. Felizmente, surgem também visões mais humanistas, como as expressas no relatório da UNESCO “Reimaginar o nosso futuro juntos: Um novo contrato social para a educação”. As propostas deste relatório desenvolvem-se em torno de cinco pilares: 1) uma pedagogia organizada em torno de princípios de cooperação, colaboração e solidariedade; 2) um currículo que enfatiza aprendizagens ecológicas, interculturais e interdisciplinares; 3) a profissão docente como sendo desenvolvida de forma colaborativa; 4) as escolas como lugares protegidos e centrais de construção de comunidade; 5) a educação em diferentes tempos e espaços, e ao longo da vida.

A história do futuro da educação tem já mais de um século. Nos anos 20, nos congressos da Liga Internacional pela Educação Nova, reuniam-se conhecidos pedagogos (Freinet, Dewey, Montessori, Piaget, entre muitos outros) para pensar novas formas de educação que permitissem, entre outras coisas, a construção de um futuro de paz. As “escolas do futuro” já existem há muitos anos e em muitos lugares, os “professores do futuro” também. E não falo de escolas privadas “inovadoras”, falo de escolas públicas.

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Em Portugal, um dos exemplos mais paradigmáticos é a Escola da Ponte, sobre a qual foi publicado em 2001 um livro intitulado “A escola com que sempre sonhei sem imaginar que pudesse existir”. Estas escolas públicas existem e distinguem-se pela relação entre as pessoas que as constroem – alunos, professores, encarregados de educação, e a restante comunidade.  Contudo, o que as torna especiais é também o que muitas vezes as leva a ser alvo de injustiças. É precisamente isso que está a acontecer na Escola Básica da Fonte Santa, em Almada.

Se fosse elaborada uma “checklist” para aferir as escolas que cumprem com aquilo que é preconizado pelo relatório acima mencionado, esta escola seria seguramente tida como um exemplo. Sendo uma escola com turma heterogénea (alunos do 1.º ao 4.º ano), a cooperação, colaboração e solidariedade são uma constante: os alunos mais velhos ajudam os mais novos e ao fazê-lo reforçam as suas próprias aprendizagens. Esta é também uma escola diversa, com crianças de várias nacionalidades, onde os pais participam ativamente, nomeadamente proporcionando momentos de partilha cultural na sala de aula. A escola tem um recreio onde as crianças sobem às árvores e brincam na terra. A professora do 1.º ciclo e o professor do jardim de infância desenvolvem atividades em colaboração.

Apesar de ser um exemplo, esta escola tem hoje ordem de encerramento. Os argumentos apresentados pela Câmara Municipal de Almada, entre eles o de que a heterogeneidade da turma constitui um fator de insucesso, foram repetidamente refutados pela comunidade educativa. A posição do executivo revela falta de consideração pelo trabalho que se faz nesta escola e pela voz de crianças e encarregados de educação, que muito se opõem ao fecho da mesma.

Enquanto esta escola tem ordem de encerramento, estarão seguramente a nascer mais escolas privadas “inovadoras”, mais escolas da floresta, mais ditas “escolas do futuro”. Mas essas não serão para todos, apenas para os que as conseguirem pagar. Lutar contra o encerramento da escola da Fonte Santa é lutar pelo direito que estas crianças têm de continuar a ser felizes na escola. É lutar por um futuro para a educação que não seja ditado pelo pensamento economicista, mas sim pela vontade democrática das comunidades educativas. É lutar por uma escola pública que garanta que TODOS podem ter acesso a uma educação feliz, emancipadora e em comunidade.

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