Túnel rodoviário submerso entre a Trafaria e Algés é uma das obras públicas tidas como prioritárias pelo Governo. Associações criticam “projeto faraónico” e defendem necessidade de apostar na mobilidade sustentável e nos transportes públicos.
Mais de uma dezena de organizações ambientais lançaram esta semana um apelo ao Governo para repensar as estratégias de mobilidade delineadas para a Área Metropolitana de Lisboa e as duas margens do Rio Tejo. Em causa está a resolução, aprovada em Conselho de Ministros no passado dia 20 de março, enumerando 31 projetos rodoviários prioritários, cujo desenvolvimento deverá ficar a cargo da Infraestruturas de Portugal (IP). Entre estes, está o a construção de um túnel rodoviário submerso para ligar a Trafaria a Algés que, no entender das organizações que assinam o documento, não passa de um “projeto faraónico, que perpetua a desigualdade no acesso e nos afasta dos compromissos internacionais que urge cumprir”.
A decisão, por isso, é posta em causa pelas dezasseis organizações da sociedade civil que, em comunicado, criticam aquilo que dizem ser a falta de “qualquer fundamentação técnica para tal decisão” e defendem que a estratégia deve passar por uma maior aposta nos transportes públicos e modelos alternativos “mais eficientes, ecológicos e inclusivos com vista a atingir as metas da transição energética”.
“A mobilidade neste eixo é um desafio urgente, mas a solução não deve passar pela criação de mais infraestruturas rodoviárias que apenas perpetuam a dependência do automóvel e vão contra a estratégia climática nacional, que vincula o país a reduzir as emissões de gases com efeito de estufa”, pode ler-se no comunicado.
Em alternativa, as associações em questão apresentam um conjunto de medidas “de baixo e médio investimento” que, dizem, podem ser adotadas a curto e a médio-prazo, até 2030. Entre estas propostas constam a melhoria na oferta do serviço de transporte fluvial no rio Tejo e a reativação do terminal fluvial de Algés, bem como o reforço da capacidade dos comboios suburbanos da Fertagus.
São ainda reivindicadas soluções antigas, tais como a conclusão do projeto de expansão do Metro Sul do Tejo à Trafaria e a extensão do traçado até Alcochete — “tal como já previsto em diversos instrumentos legais e de planeamento” —, bem como a criação de faixas específicas na Ponte 25 de Abril, destinadas à circulação do “transporte público rodoviário de grande capacidade”, como o autocarro.
“A solução para a mobilidade entre a Margem Sul e a Margem Norte da Área Metropolitana de Lisboa, não pode continuar baseada no transporte individual”, justificam as associações, sustentando que “a aposta imediata no reforço dos serviços de transporte público – ferroviário, fluvial e rodoviário – é a alternativa lógica para um futuro mais sustentável, eficiente e acessível para todos”, e apelando a que as medidas propostas sejam consideradas pelos responsáveis pelos responsáveis políticos e administrativos, desde o Governo às câmaras de Almada e de Oeiras, passando pela IP, pelo Instituto da Mobilidade e dos Transportes e pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA).
À agência Lusa, João Joanaz de Melo, professor universitário e membro do Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente (GEOTA), explicou que “o apelo que fazemos é no sentido de se apostar a sério num sistema de transportes públicos, em particular nas áreas metropolitanas, mas genericamente ao nível do país e de reduzir a aposta no automóvel dando alternativas às pessoas”.
No âmbito desse apelo, diz, a mobilidade sustentável entre as margens do Tejo deve ser tida como uma prioridade pelo poder político. “Estamos a viver uma crise climática, todos nós já sabemos isto intelectualmente, nos últimos dias e semanas sentimos isto literalmente na pele”, indicou Joanaz de Melo. Defende, por isso, a diminuição na emissão “gases de efeito de estufa” e uma aposta “a sério no transporte público, em vez de andar com fantasias de gente rica que pode usar o carro como se fosse algo inócuo e barato”, quando “é extraordinariamente caro e tem impactos ambientais, a começar pela nossa saúde”, acrescentou.
Entre as associações que assinam o apelo estão organizações de âmbito nacional, como a Quercus e a Associação Zero, e outras de âmbito local e regional, caso da Inspira Mobilidade, da Comissão de Utentes dos Transportes da Margem Sul ou do Centro de Arqueologia de Almada.
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