Arranca esta quinta-feira, dia 17, a quinta edição da mostra de dança contemporânea e artes performativas, que se afirma cada vez mais como uma referência a nível nacional. Ao ALMADENSE, Adriana Grechi, co-diretora artística da Transborda, fala dos principais destaques da programação e da identidade de um festival “pensado para Almada”.
Um festival para aproximar as artes performativas do público. É desta forma que Adriana Grechi descreve ao ALMADENSE o cunho e identidade da Transborda, evento que vai para a quinta edição e continua a ganhar relevo como uma das principais mostras de dança contemporânea do país, assente, segundo a co-diretora artística do programa, em dois princípios norteadores: o “diálogo” e a “proximidade”.
“A edição deste ano está muito focada em trabalhos colaborativos”, explica Adriana Grechi, com um percurso de décadas no meio e para quem a Transborda assenta na continuidade de um trabalho que desenvolveu, a par de durante mais de 10 anos à frente do Festival Contemporâneo de São Paulo, a par de Amaury Cacciacarro, com quem dirige agora a Transborda e a Casa da Dança de Almada.
À semelhança de anos anteriores, a mostra divide-se entre o palco do Teatro Municipal Joaquim Benite (TMJB) e do Fórum Municipal Romeu Correia (FMRC), aos quais se juntam, na edição de 2025 os espaços do Largo do Farol de Cacilhas e da Casa da Dança. Entre os destaques da programação deste ano estão a nova criação de Cristian Duarte, “E nunca as minhas mãos estão vazias” (4 de maio no TMJB) para a qual trouxe oito bailarinos de São Paulo, e “L´Envol”, da coreógrafa franco-argelina Nacera Belaza (3 de maio, também no TMJB).
Este ano marca também o regresso de vários artistas conceituados, que voltam a pisar palcos nacionais em Almada. É o caso de Maria João Costa Espinho, que traz “Uivo” ao Romeu Correia, já no dia 17 de abril, e André Uerba, que recria “Æffective Choreography” nos dias 26 e 27 de abril no Teatro Joaquim Benite, em colaboração com a Fundação Serralves, num de vários espetáculos que conta com a participação de performers locais,
A evolução da Transborda, explica a sua mentora, tem-se refletido ao longo dos anos numa mudança no público participante. “No primeiro ano, era sobretudo um público muito especializado, de Lisboa, que já conhecia os artistas e acompanha a dança contemporânea. Com o passar dos anos, o público de Almada e a Margem Sul expandiu-se, e hoje em dia já é um público bastante diverso, de várias gerações e origens”, diz.
Para isso, Adriana Grechi acredita que muito tem contribuído o trabalho desenvolvido na Casa da Dança, onde durante todo o ano são realizadas ações de laboratório, destinadas a vários públicos, que abrangem desde as comunidades de dança locais à comunidade escolar e até a terceira idade. “No decorrer destes últimos três anos, mais de 400 performers participaram nesses laboratórios”, conta.
Fomentar novos públicos

Essa realidade espelha aquilo que é o grande interesse para os diretores do festival: o fomento de novos públicos, num espaço que nem sempre é programado a pensar neles. Muitas vezes, as artes performativas ficam um tanto direcionadas para um público já ‘iniciado’, mais familiarizado. Entendemos que quando as pessoas têm mais acesso aos processos dos artistas, nos laboratórios, nas conversas, vão criando relações e vão, pouco a pouco, conhecendo o trabalho desses artistas”, diz a diretora da Transborda, sublinhando que “quebrar divisões” é o grande objetivo da mostra.
Essa lógica, de juntar pessoas de origens, bagagens culturais e geracionais diferentes estende-se à própria programação do festival, pensada para equilibrar nomes já consagrados do panorama da dança contemporânea com artistas emergentes e à procura de afirmarem o seu espaço.
“Procuramos combinar artistas de diferentes gerações, uns bastante conhecidos, outros mais jovens”, explica Adriana Grechi, acrescentando que a lógica da programação começa com um — por vezes até dois — anos de antecedência de cada edição.
“Fazemos uma grande pesquisa, que vem também de um diálogo com artistas com quem já trabalhámos noutros momentos”, diz, enumerando alguns dos desafios logísticos que se colocam, ano após ano. “Primeiro, temos de achar um momento no calendário da cidade, porque Almada é uma cidade com muitos eventos e festivais. A data deste ano, entre o final de abril e o início de maio, foi escolhida porque não havia nenhum festival. Depois, há todo um diálogo com os teatros, que tem que começar um ano antes para a reserva das salas, para que possamos conciliar essa reserva com as agendas dos artistas. São muitos fatores.”
O tempo que é necessário para montar um festival desta dimensão reflete também outra das características norteadoras da Transborda: a de criar um espaço de respiração. “Não fazemos muitas apresentações, porque temos esse enfoque em estabelecer relação com o público e criar tempo e espaço de convívio”, diz Grechi. “O festival é espalhado no tempo, dura três semanas e são apenas oito apresentações, para além dos laboratórios e das colaborações criativas”.
De São Paulo para Almada
Esse atrativo de “trabalhar com tempo” foi, aliás, uma das coisas que atraiu a dupla de artistas a Almada, depois de anos submersos no caldo cultural de São Paulo. “O ambiente é muito mais propício ao convívio, ao tempo, ao encontro entre as pessoas. São Paulo é uma cidade gigantesca e era uma constante luta, todo o ano, para conseguir organizar o festival, fazíamos vinte e tantas apresentações… aqui conseguimos realizá-lo de uma forma mais tranquila, com apoio mais continuado. Eu e o Amaury gostamos muito desta possibilidade, de trabalhar numa escala menor, de fazer um festival com mais tranquilidade”.
Os anos no Brasil formam a base do know-how da Transborda, quer ao nível da logística de programação, quer do diálogo com os artistas. O local também ajuda: perto de Lisboa, Almada acaba por ser um chamariz, atraindo vários públicos da capital. “O título do festival também tem relação com essa ideia de ‘transbordar’ as margens do Tejo, bem como as áreas artísticas”, diz Adriana Grechi.
Quanto ao futuro, e ao continuado crescimento da Transborda, a diretora artística do projeto admite “expandir as colaborações, os tempos de laboratório” e, eventualmente, explorar mais a possibilidade de apresentações em espaços públicos (este ano está programada uma sessão no largo do Farol de Cacilhas, da obra Danser la Ville, do marroquino Taoufiq Izeddiou.
Contudo, Adriana Grecchi sublinha querer manter a escala, essencial para a identidade da mostra. “É um festival pensado para Almada, numa escala que possibilita que as pessoas assistam a todos os trabalhos, que participem nos laboratórios e que tenham tempo para a convivência. Manter a dimensão mantém a qualidade do encontro entre as pessoas, que é realmente o que mais nos interessa”.
Este ano, a Transborda volta a contar com o ALMADENSE como parceiro de media. Os bilhetes custam entre 5 e 10 euros, estando a programação completa disponível aqui.