Segunda-feira, Dezembro 11, 2023
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Refood já apoia 130 famílias em Almada (mas tem 50 em lista de espera)

Dez anos depois do nascimento da Refood Almada, são cada vez mais as famílias que procuram apoio. Os beneficiários são agora “pessoas que têm um emprego estável e que, de repente, deixam de conseguir suportar os custos”, aponta voluntária.

 

Ao cair da noite, o centro de operações da Refood no Feijó começa a animar-se. Entre a música, as luzes fluorescentes e o cheiro da comida que vai chegando, os voluntários cumprimentam-se e dedicam-se às suas tarefas, que vão desde a lavagem da louça e organização dos alimentos à entrega de cabazes às famílias carenciadas. Atualmente, são 130 as famílias que beneficiam do apoio da instituição no concelho, o que se traduz em cerca de 370 pessoas.

Desta forma, o número de famílias apoiadas pela organização praticamente triplicou desde o início de 2020, altura em que fornecia alimentos a 134 benefiários. No entanto, a Refood Almada tem ainda 50 famílias em lista de espera.

“Ultimamente, tem aumentado muito o número de famílias que procuram a ajuda da Refood. São cada vez mais os beneficiários que fogem ao padrão a que nos tínhamos habituado. Já não são pessoas que vivem nas franjas da sociedade, mas sim pessoas que têm um emprego estável e que, de repente, deixam de conseguir suportar os custos. O dinheiro é para as despesas, e para a alimentação têm de recorrer a instituições”, conta Ana Lúcia Abrantes, gestora de turno responsável pela pasta dos beneficiários e pela pasta de operações, ao ALMADENSE.

O aumento da inflação é um dos motivos que explica esta realidade: “faz-se sentir nos bolsos de todas as famílias”, o que leva também a uma consciencialização cada vez maior em relação ao não-desperdício: “as pessoas agora pensam duas vezes antes de deitar qualquer coisa fora”, indica.

A maioria das famílias chega à Refood através da assistência social, mas são cada vez mais os que procuram, por conta própria, o apoio da instituição. “A ideia é que os beneficiários não se tornem eternos carenciados e que, quando conseguirem, nos avisem e sigam o seu percurso”, indica Ana Lúcia. De seis em seis meses, são realizadas entrevistas com cada família para perceber se a situação de carência se mantém, ou se já poderão sair para dar lugar a outras pessoas.

Mas os planos da Refood não ficam pelo apoio às atuais 130 famílias. Para breve está também a mudança do centro de operações para o Laranjeiro. Ainda sem data marcada, mas com as obras quase concluídas, a mudança trará a possibilidade de se fazerem mais turnos de entrega sem pôr em causa a receção de alimentos.

 

Proximidade com as famílias apoiadas

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Os voluntários organizam-se em turnos de duas horas entre as 18h e as 24h, de segunda a sexta-feira. O objetivo é assegurar o acompanhamento contínuo das várias famílias que beneficiam do apoio da Refood, bem como a recolha de alimentos nas várias fontes que se comprometem a apoiar esta causa. A organização funciona, assim, como a ponte entre os alimentos que iriam ser desperdiçados e as famílias que mais necessitam desses alimentos.

“O ideal é que cada turno tenha dez pessoas, mas tem sido difícil assegurar esse número”, indica Ana Lúcia, acrescentando que “são tão necessários os voluntários como as fontes de alimento”. As tarefas de quem doa o seu tempo à Refood vão desde a recolha de alimentos, nas duas carrinhas da organização, à entrega dos cabazes alimentares às famílias.

Como refere a voluntária, “cada família que procura o apoio da Refood tem a sua especificidade, a sua nacionalidade, as suas intolerâncias. Não é por serem beneficiários que não têm direito a ter as suas preferências. E se podemos atender a estas preferências, devemos fazê-lo”. Cada um dos voluntários que desempenha esta tarefa na Refood conhece bem as suas famílias, os seus gostos e os seus dias de festa – o que leva à criação de uma maior proximidade.

 

“Cimentar a ponte” entre o excesso e a necessidade

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A Refood chegou a Almada em 2013, recolhendo excedentes alimentares de várias fontes de alimentos e entregando-os diretamente a associações e instituições locais. Foi mais tarde, com a inauguração do centro de operações na freguesia do Laranjeiro e Feijó (2018), que a instituição começou a apoiar diretamente as famílias carenciadas.

O objetivo da Refood é combater não só a carência alimentar mas também o desperdício que se faz sentir um pouco por todo o concelho: “Temos de pôr os alimentos a circular de novo. Sabemos que um terço da população mundial passa fome, e que um terço de toda a comida produzida vai para o lixo”. Quem o lembra é Ana Lúcia,  que acredita haver maneira “de as coisas se encaixarem”.

Para Amanda Rafacho, gestora de turno e uma das responsáveis pela pasta da comunicação, o grande objetivo da Refood atualmente é “cimentar a ponte” entre os excedentes alimentícios e a população necessitada, já que a organização tem crescido exponencialmente quer em número de voluntários e fontes de alimentos quer em número de famílias apoiadas.

Neste momento, são 48 as fontes de alimentos entre restaurantes, pastelarias, supermercados e cantinas, como a cantina do Arsenal do Alfeite. Em breve juntar-se-ão ao rol de fornecedores da Refood as cantinas de algumas escolas do concelho – o que implicará uma nova ronda de recolhas, durante a tarde.

“Há muitas pessoas que nem têm um fogão onde cozinhar as refeições. Com as refeições quentes, estamos a contribuir para uma melhoria na qualidade de vida”, indica o voluntário Carlos Pontes. Em agosto de 2023, a Refood Almada já tinha arrecadado 170 toneladas de comida, o que representa um crescimento de 45% face ao ano anterior. “Faz-nos pensar na quantidade de comida que iria parar ao lixo”, sublinha Amanda.

A nível mundial, o desperdício alimentar representa perdas económicas superiores a um bilião de dólares por ano; em Portugal, 1,2 milhões de pessoas sofreram insegurança alimentar moderada ou grave em 2022, número que ascende aos 2,3 mil milhões em todo o mundo.

 

Fotos: Bruno Marreiros

 

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