Segunda-feira, Abril 15, 2024
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Canil da Aroeira: da vontade de ajudar fez-se um lar para 130 cães

Na zona da Aroeira há um canil que há 30 anos dá abrigo a dezenas de cães e que resiste graças à grande dedicação dos voluntários.

 

A frase podia abrir um livro: “O difícil faz-se, o impossível leva mais tempo”. É o lema que se lê, em letras grandes, assim que se entra pelo portão do Canil da Aroeira, na freguesia da Charneca de Caparica, concelho de Almada. Atualmente, o espaço está dividido em sete zonas de abrigo, cada uma com espaços abertos, onde encontramos alguns dos cães a brincar, explica ao ALMADENSE Cristina Nunes, presidente da associação Os Amigos dos Animais de Almada, responsável pelo canil.

Ao meio dia é a hora habitual de dar os medicamentos aos patudos. De manhã, é dada a primeira refeição do dia aos animais e é feita a higiene das boxes —as casas onde dormem e habitam os cães— e dos espaços comuns. Existe uma tabela complexa onde os voluntários consultam qual a medicação de cada animal, mas há muito que Cristina sabe de cor. O hábito faz com que consulte a tabela apenas no fim, para ter a certeza de que distribuiu corretamente as dezenas de comprimidos em pedaços de comida húmida.

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Esta é a casa de 130 cães que foram, a certo ponto da sua vida, abandonados. Hoje, com o apoio dos voluntários, vivem no Canil da Aroeira à espera de uma família que os adote. O carinho pelos animais e a vontade de ajudar é algo que todos têm em comum.

“O que me atraiu foi a paixão pelos animais. Continuei porque me deparei com a realidade do canil, na altura não tinha qualquer apoio da Câmara de Almada e cuidar dos animais só era possível graças às doações e disponibilidade dos voluntários”, conta ao ALMADENSE a jovem Mariana Cunha, voluntária no canil desde os 15 anos.

 

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Depois de 30 anos de existência, o Canil da Aroeira assinou recentemente um protocolo de parceria com a Câmara Municipal de Almada (CMA), que se traduz num apoio anual no valor de 30 mil euros. Frisando que os apoios da autarquia são bem-vindos, tanto a presidente da associação como Mariana Cunha admitem que, ainda assim, o canil está longe de ter as “condições que qualquer um desejaria”, uma vez que os apoios “não são suficientes”.

“São 30 mil euros por ano, o que parece imenso, mas na realidade não dá assim para tanto. Temos 130 animais, um número que está sempre a crescer, a construção de cada box custa 500 euros só em materiais, fora mão-de-obra”, diz Cristina, relembrando que a entidade também tem que “pagar análises e exames que são caríssimos. Depois temos as rações, os medicamentos e os ordenados de duas trabalhadoras”, explica a presidente do canil.

Apesar do preço elevado das consultas e exames, Cristina Nunes destaca o apoio de veterinários como Nuno Paixão, Provedor do Animal de Almada, que permitem pagamentos mais baratos e flexíveis. Por sua vez, perante a escassez de meios, os voluntários zelam para que nada falte diariamente aos animais. “Estão sempre dispostos a arcar com algumas despesas ou a fazer doações ao canil. Por exemplo, quem vem durante as manhãs alimentar os animais traz sempre arroz, patês, biscoitos e outras coisas, sempre por conta própria”, explica a voluntária Mariana Cunha.

 

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Situado na avenida Ilha da Madeira, o canil nasceu da vontade de uma mulher ajudar os cães da região. “Nasceu de uma forma rudimentar. A proprietária do terreno —que, entretanto, faleceu— começou a reparar que havia muitos cães vadios, então começou a recolhê-los e a colocá-los no terreno. Eventualmente as pessoas repararam e começaram a querer ajudar”, lembra a atual responsável.

Ao longo do tempo, o canil foi crescendo, foi acolhendo cada vez mais animais e vendo as condições a melhorarem. “Desde que cheguei que o espaço tem sido melhorado pelos voluntários com a construção de boxes com melhores condições e zonas para lavar os comedouros e preparar a comida, com arrumação, lavatórios, telhados para abrigar do sol e da chuva e brita no chão para evitar lama”, refere a voluntária.

Por sua vez, Cristina Nunes distribui carinho por todos os animais com quem interage, tal como os voluntários que sem pressa interrompem as suas tarefas para brincar com os amigos de quatro patas. Sempre disposta a lutar por melhores condições para os animais, a presidente vê o seu empenho reconhecido pelos voluntários. “Estou muito contente com o trabalho que a Cristina desenvolveu ao longo dos anos, ao permitir uma maior exposição dos cães à comunidade em eventos como o Almada Green Market, passeios fora do canil todos os domingos e até mesmo caminhadas até à praia. Toda esta divulgação atraiu mais atenção à situação, assim como mais voluntários, doações e adotantes”, diz Mariana Cunha.

 

Como posso ajudar?

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“Quem quiser ajudar tem diversas formas de o fazer. Seja monetariamente, seja a adotar, a fazer voluntariado, a gerir as redes sociais, a passear os cães, apadrinhar, doar produtos de higiene, ração ou medicamentos, aceitamos tudo”, esclarece Cristina Nunes a sorrir. No site do canil da Aroeira, pode consultar todos os bens que podem ser doados, neste link.

Os voluntários “aumentaram nos últimos anos, muito graças às redes sociais. Mas no inverno diminuem, temos muitos miúdos, que eu gosto de chamar de graúdos, que fazem voluntariado no verão, mas durante as aulas não podem. A quem eu apelo é aos mais velhos que estejam reformados ou sem nada para fazer, venham ver, venham fazer, saem daqui com a alma cheia”, garante a responsável em jeito de convite a todos que tenham vontade de ajudar os patudos, confessando o desejo de ter mais pessoas comprometidas com o canil. Quem quiser tornar-se voluntário poderá preencher o formulário de inscrição através deste link.

 

Apadrinhar ou adoptar um cão?

O regime de apadrinhamento consiste em doar um valor simbólico de, por exemplo, cinco euros mensais, e ter uma relação mais próxima com o animal. Os padrinhos podem dar passeios mais recorrentes —com marcação prévia—, podem levá-los ao veterinário e, com alguma confiança, até podem levar o “cãofilhado” durante um fim de semana para sua casa. No fundo, o padrinho ou madrinha é mais um olhar atento e de apoio ao animal.

A adopção é muito cautelosa e passa sempre pela aprovação da família que acolhe o cão. Quem tiver vontade de receber um novo elemento na família pode dirigir-se ao canil, entre as 9h e as 12h30. É aconselhável fazer marcação prévia ou visitar a banca do Canil da Aroeira no Almada Green Market, que tem lugar no Parque da Paz no último fim de semana de cada mês.

 

Fotos: Andreia Gonçalves

Com Alexandre Quintela da Silva

 

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