Será que é assim tão descabido podermos ter um médico assistente numa clínica e assim tirar pressão dos médicos dos Centros de Saúde públicos? É aceitável que um médico de família tenha 1800 pacientes a seu cargo?
Jorge Cerejeira, residente na Sobreda
Há dias foi notícia — com comentários inflamados contra e a favor — a inauguração de um Centro de Saúde privado do grupo CUF no nosso concelho. Almada tem, além do Hospital Garcia de Orta e dos centros de saúde públicos, a clínica CUF, os Lusíadas, SAMS, o Hospital Particular de Almada, além de várias clínicas especializadas. Penso que temos uma oferta diversificada no nosso concelho.
Aparentemente, os problemas que temos deveriam estar resolvidos ou, no mínimo, controlados, mas não é assim. O problema é os grupos privados de saúde ou os serviços para os quais todos contribuímos, que teimam em não ser eficazes e eficientes?
Nada é mais errado que criticar ou demonizar a oferta privada de saúde.
Se pensarmos bem, em Almada existe uma variada oferta de saúde pública e privada. O que preferimos criticar é quem tem seguros para pagar os serviços privados. O que preferimos esquecer ou desvalorizar é a razão de não podermos todos aceder a esses serviços.
Na realidade, apenas um partido tem no seu programa uma solução clara de acesso à saúde sem olhar se é público, privado ou social e isso fez-me pensar. Porque será?
Será que os restantes partidos pensam mesmo em dar condições de assistência aos seus concidadãos? Ou eternizar esta situação dá-lhes argumentos para atacar? Quem sofre no fim?
Um dos argumentos é o custo e a ideia de “dar a ganhar” aos grupos privados. Mas não o fazem já com os convénios? E que mal tem se o Serviço Nacional de Saúde (SNS) não consegue responder? Porque será que a grande maioria dos almadenses pensa que o mal é haver quem ganhe mais para ter um seguro de saúde em vez de pensar que a saúde é universal e deveria ser para todos independentemente do rendimento, do local ou do prestador?
Porque será que os almadenses acreditam que são os privados que fazem com que não tenhamos todos médico de família, em vez de pensar que há oferta, mas não estão todos nos centros de saúde mas devia ser permitido escolhermos?
Será que é assim tão descabido podermos ter um médico assistente numa das inúmeras clínicas existentes e assim tirar pressão dos médicos dos Centros de Saúde? É aceitável que um médico de família tenha 1800 pacientes a seu cargo, como alguns têm?
Dir-me-ão que abrindo a porta aos privados sobem os custos. A OCDE publicou em 2024 que Portugal é o terceiro país da Europa com maior gastos na saúde. E as soluções de sempre resolveram ou melhoraram alguma coisa? E continuarmos a diabolizar os hospitais e clínicas privadas resolve alguma coisa?
Dirão que quando aparece uma situação gravíssima nos privados, não têm equipamento e enviam o paciente para o hospital público. E então? É preferível deixá-lo morrer num dos corredores? Ou ir ao hospital público e esperar 18 horas para ser atendido?
Eu sou utente do SNS, mas também tenho seguro de saúde como benefício da empresa empregadora. E ainda bem que assim é, senão não sei bem como seria. O ser humano resiste naturalmente à mudança, precisa de ter a determinação para mudar e a súde faz parte de um dos temas que requer uma mudança estrutural. Apenas atirar dinheiro para o problema podemos todos concordar que não resolveu nada.
A certeza que tenho é que enquanto continuarmos sem pensar a saúde, todos nós, os utentes, seremos sempre sacrificados. É tempo de acreditarmos que a mudança, as reformas de que este país precisa darão um futuro mais seguro aos nossos descendentes.
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